Fazia tempo que um livro não conseguia me impactar tanto. Kafka consegue, aos poucos, despertar sentimentos no leitor. Não é um parágrafo ou um capítulo que são mais fortes. O efeito das palavras de Kafka é diluído e, quando percebi, a história de Gregor já estava me incomodando.
A obra traz a história de Gregor Samsa, um caixeiro viajante insatisfeito com sua profissão, mas que trabalha para sustentar sua família. Em um dia qualquer, Gregor acorda transformado em um inseto. Na primeira parte da obra, o leitor acompanha a descoberta dessa metamorfose pelo próprio protagonista. Kafka vai desenvolvendo as sensações de Gregor – físicas e psicológicas – sobre esse acontecimento bizarro. E é incrível a capacidade do autor em envolver o leitor no que está sendo narrado. Você sente que aquela metamorfose poderia estar acontecendo com você. E, na minha opinião, é disso que sai a genialidade do livro: essa capacidade de mexer com quem o lê, criando uma história angustiante e perturbadora em pouco mais de 100 páginas.
Nas segunda e terceira partes, Kafka narra a descoberta dessa metamorfose pelos pais e pela irmã de Gregor. Aqui o autor trabalha com o realismo mágico, pois lida com um fato completamente incomum de forma natural. E muito embora Gregor tenha mantido sua personalidade, passou a sofrer uma forte rejeição pela família. Ou seja, não bastasse o desespero com a transformação física vivida – em um monstruoso inseto – ele também começa a perceber que seus pais passam realmente a tratá-lo como um inseto qualquer, e não mais como um integrante da família que trabalhava para poder sustentá-los. Esse comportamento dos outros personagens também incomoda o leitor, pois Kafka trata essa indiferença da família de Gregor com muita naturalidade. É um retrato cru da degradação humana.
Já ansioso pelas próximas leituras de Kafka!
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“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas (…)” #bookster