Turguêniev é autor de um dos meus livros favoritos: Pais e filhos (a edição está esgotada aqui no Brasil, torcendo para alguma nova editora republicá-lo). O autor é conhecido por ter produzido uma obra mais acessível, voltada para o leitor ocidental. Quando alguém me pergunta por qual livro da literatura russa começar, recomendo alguma de suas obras.
Como esperado, “Memórias de um caçador” foi uma grande leitura. Os 25 contos têm em comum o cenário do campo russo da década de XIX. Ao longo da leitura, o autor vai apresentando diversos aspectos sociais e culturais dos moradores do campo (mujiques), principalmente o contraste entre a vida dos servos e dos proprietários de terras. Turguêniev inova ao apresentar o lado humano do mujique, uma classe social marginalizada. Por meio dos contos, o leitor tem contato com a vida íntima desses camponeses, adentrando em suas casas e testemunhando intrigas familiares e amorosas. Considerando o tom crítico em seu texto, que revela as difíceis condições de vida dos mujiques, o autor foi preso um mês depois de sua publicação, em 1852. Inclusive, “Memórias de um caçador” teve um papel importante para abolição da servidão na Rússia.
A narrativa de Turguêniev é bem descritiva e com uma forte carga poética, o que pode deixar algumas passagens um pouco arrastadas. No entanto, essa descrição excessiva do ambiente, dos costumes e tradições da época foi intencional, com o objetivo de transportar o leitor para aquele cenário. De acordo com os especialistas em literatura russa, há um certo tom autobiográfico nos contos que compõem a obra: Turguêniev nasceu em uma família rica e passou parte da infância em uma grande propriedade no campo.
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Destaque para os contos: “O médico do distrito”, “Meu vizinho Radílov” E “Kassian de Krassívaia Mietch”.
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“Arkadi Pávlitch, empregando suas próprias palavras, é severo, porém justo, zela pelo bem de seus súditos e os pune para seu próprio bem.” #bookster