Como um homem gay que cresceu com pouca representatividade ao redor, fico muito feliz de ver obras contemporâneas com personagens LGBTQIA+ sendo publicadas por grandes editoras e sendo lidas por um público mais amplo. Esse é o segundo romance que eu leio do autor norte-americano Garth Greenwell. O primeiro livro, “O que te pertence”, também tinha como personagem principal um homem gay e acaba revelando um estilo semelhante com a sua nova obra.
Em “Pureza”, somos apresentados a uma professo americano que vive em Sófia, capital da Bulgária. A obra é dividida em partes, que não possuem uma relação de dependência entre si. O autor não faz o uso dos nomes dos personagens, se limitando a apresentar sua inicial, o que pode deixar um pouco confusa a identificação das histórias. De toda forma, a escrita é simples e pouco descritiva, ao mesmo tempo que consegue adentrar na intimidade do protagonista.
Senti que, diferentemente de “O que te pertence”, o novo livro mergulha menos em um aspecto de relacionamentos afetivos, com passagens mais longas e explícitas de encontros e relações sexuais. A capacidade de descrever essas cenas de uma forma crua e bem construída surpreende o leitor. Talvez tenham sido as cenas mais intensas que já li. Há, ainda, reflexões interessantes sobre a culpa relacionada aos desejos e fantasias sexuais, que acabam desgastando o protagonista e criando dúvidas. Quais seriam seus verdadeiros gostos e do que ele havia reprimido por conta da sociedade conservadora em que vive? Existiria vergonha no desejo?
A abordagem mais romântica da obra fica para as passagens em que o professor relembra de sua primeira paixão e os sofrimentos com o fim desse relacionamento. Também gostei da atmosfera mostrada pelo autor do cenário em que se passa a obra, revelando um pouco do contraste de um norte-americano vivendo em uma cidade com resquícios de um governo socialista.