Publicado em 1929, o livro narra a historia de duas amigas de infância, Irene e Clare, que acabam tomando rumos diferentes. Ambas são criadas no Harlem, bairro de Nova York, e “são negras de pele clara que podem se passar por brancas”. Enquanto Irene aceita a sua origem e a sua cor, Clare acaba tomando decisões baseadas na ideia de se passar por uma mulher branca na sociedade.
E as diferenças entre as vidas das duas personagens acabam produzindo um incômodo choque quando Irene e Clare se reencontram já adultas. Irene vive uma vida invejável, casou com um marido negro que a ama, tem dois filhos e uma boa condição financeira. No entanto, a volta de Clare acaba despertando questionamentos na personagem e a coloca de cara com a revoltante questão do racismo. Isso porque, além de representar a negação de um destino que Irene escolheu para si, Clare vem acompanhada de um marido muito preconceituoso e que desconhece as origens da esposa. É um conflito de identidades que acaba estremecendo a antiga relação entres as duas.
Como a narrativa é apresentada a partir da perspectiva de Irene, acabamos ficando mais contaminados pelas suas opiniões sobre a vida secreta da amiga. De fato, não somos apresentados aos motivos que levaram Clare a optar por esquecer a sua origem e as dificuldades que enfrentou nesse processo.
Achei a leitura simples e muito interessante, até por trazer uma perspectiva atual não tão abordada da temática racial, mas acabei sentindo falta de um aprofundamento melhor nos personagens e um desenvolvimento de algumas passagens (incluindo um final abrupto).
No entanto, é importante entender o quanto a obra foi importante para a época em que foi produzida, revelando uma postura revolucionária em relação ao cenário de discriminação existente. Nascida em 1891, Nella Larsen escreveu apenas três obras, mas é considerada como uma das principais influências da “Renascença do Harlem”. Uma interessante obra sobre uma perspectiva pouco abordada das questões raciais.