“No dia seguinte ninguém morreu”. Essa é a frase de abertura do livro, que tem como personagem principal a morte (com letra minúscula, registre-se!). Cansada de ser vista como algo (ou alguém) indesejado por nós, seres humanos, a morte de um determinado país – sim, porque existem várias mortes – decide interromper suas atividades para deixar clara a importância que recai sobre sua função. De um dia para o outro, portanto, NINGUÉM mais morreu.
E quais serão as consequências dessa atitude vaidosa da morte? É justamente esse o enredo de mais uma obra excepcional de Saramago, que passa a discorrer sobre os prejuízos causados aos empresários dos serviços funerários, a superlotação dos hospitais, a perda da função da igreja, o contrabando de pessoas em busca da morte em outros países e por aí vai… O autor ainda consegue humanizar a morte, transformando essa figura em alguém que sente, que pensa e que tem suas próprias dúvidas existenciais!
É um livro muito bem escrito, com parágrafos longos e com pouca pontuação, características de Saramago. Achei que no meio da obra, o autor acabou deixando a leitura um pouco prolixa e arrastada, o que foi logo “corrigido” por uma reviravolta. E, apesar de tratar de um assunto tão polêmico, o autor recorre constantemente ao humor, à ironia e à crítica social. Termino esse livro com ainda mais convicção da genialidade do autor e com ainda mais vontade de conhecer outras obras.
“Somos testemunhas fidedignas de que a morte é um esqueleto embrulhado num lençol, mora numa sala fria em companhia de uma velha e ferrugenta gadanha que não responde a perguntas, rodeada de paredes caiadas ao longo das quais se arrumam, entre teias de aranha, umas quantas dúzias de ficheiros com grandes gavetões recheados de verbetes.” (p. 145)
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