Um livro, acima de tudo, sobre a busca por uma identidade. “A última filha” é uma obra diferente de tudo que você que já leu, principalmente pela forma como a autora constrói sua narrativa. Mistura de autobiografia com ficção, em que o ritmo cadenciado das frases marcam os capítulos curtos. Como a sinopse indica, o ritmo de Fatima Daas ecoa “o rap ou o slam, ou ainda as rezas do alcorão”. Difícil de explicar para quem ainda não leu.
Além da escrita, os temas abordados pela autora são interessantíssimos. Fatima Daas é francesa, descendente de pais argelinos. Sua vida é marcada pelos conflitos. Como sentir a França como sua casa se seus pais não se identificam com o lugar e cultura? Como lidar com o choque cultural de ser criada em uma família muçulmana praticante em um país majoritariamente católico?
Mas os conflitos não param por aí. Fatima faz parte da comunidade LGBTQIA+ e nos conta sobre sua paixão por uma mulher, portanto, se vê como uma pecadora. Isso não a impede de viver o que ela realmente é, da forma que se identifica. Será possível ser muçulmana, religiosa, e divergir do padrão heterossexual?
A definição de Fatima pela própria autora deixa mais nítido o que encontraremos no livro: “Eu me chamo Fatima Daas. Sou a mazoziya, a caçula, a última filha. Aquela para a qual não estamos preparados. Francesa de origem argelina. Muçulmana praticante. Uma suburbana que observa os comportamentos parisienses. Sou uma mentirosa, uma pecadora. Adolescente, sou uma aluna instável. Adulta, sou hiperinadaptada. Escrevo histórias para evitar viver a minha.”
Um livro muito interessante, daqueles que a gente lê em poucos dias. Vale a experiência de partir para uma leitura diferente do que estamos acostumados a fazer, tratando de temas muito atuais.