Você já passou por aqueles pianos que ficam em lugares públicos e se perguntou: qual a história dessa pessoa que está tocando? Que, deixando o medo da opinião alheia de lado, se dispõe a emocionar os outros com a sua música?
No livro, conhecemos Joseph, um senhor de 69 anos que passa seus dias tocando em pianos espalhados por espaços públicos na Europa. Ao leitor, não é revelado o motivo desse hábito que aparenta ser tão solitário.
Mas sobre estar sozinho, o personagem conhece essa sensação há muitos anos. Quando ainda era criança, Joseph perde seus pais e sua única irmã em um acidente de avião.
E é a partir desse fato que Joseph convida o leitor a conhecer suas memórias. As memórias de um garoto órfão que, aos 16 anos, é abandonado em um orfanato em uma cidade remota da França. O local, regido por uma instituição religioso, é palco de sofrimento e solidão para o protagonista e muitos outros garotos que vivem no local. A rotina é triste, repetitiva e repleta de obrigações. Quem foge às regras, é punido de diversas formas, sendo o castigo físico algo comum naquele ambiente.
O primeiro jovem que Joseph conhece é Momo, um garoto portador de deficiência cognitiva, que logo vira vítima de chacota dos colegas. Aos poucos, o protagonista conhece outros jovens que sobrevivem com base em uma crença comum: a esperança de um dia sair daquele local. A situação foge de controle quando Joseph conhece um garota e, por conta disso, ganha um pequeno acesso ao mundo externo do orfanato.
A escrita é gostosa de ler e achei muito interessante a forma como o autor aborda a questão da orfandade. Confesso que dois pontos me incomodaram um pouco na leitura: a forma infantilizada que Joseph é apresentado, que se distancia de um garoto de 16 anos (talvez a época justifique isso); e o ritmo que fica mais lento no meio das 256 páginas. No entanto, o terço final do livro ganha muita força e o leitor não consegue largar as páginas até terminar. Essa parte final torna a experiência do livro muito emocionante e é capaz de arrancar lagrimas do leitor. Uma leitura emocionante!