Começar o #DesafioBookster2022 com uma leitura tão impactante como essa é com certeza um sinal de quanto a literatura nacional contemporânea pode ser surpreendente!
Pedro, o protagonista da narrativa é um homem negro que vive em Porto Alegre. Por viver em um país racista e desigual, Pedro sofre diariamente com agressões motivadas unicamente pela sua cor de pele. Pedro vive em um sistema agressor, mas o que fica claro ao longo do livro é que as vítimas desse preconceito são infindáveis, inclusive os seus próprios antepassados. E é justamente com um deles que Pedro vai conversando ao longo da obra: Henrique, seu Pai, morto recentemente.
Escrito em segunda pessoa, o protagonista vai reconstruindo a sua memória e a daqueles que vieram antes dele. É difícil atravessar essa leitura sem sentir momentos de aperto pelo sofrimento cotidiano de tantos que sobrevivem a uma realidade que os considera inferiores. Esse livro deixa muito claro o poder que a literatura tem de nos ensinar sobre a realidade do outro, sobre o que nos é diferente. Não há como terminar “O avesso da pele” e ainda assim defender que a ficção é perda de tempo!
Ao mesmo tempo que desperta reflexões tão importantes sobre o racismo estrutural em nossa sociedade, o autor também consegue adentrar nos nós e embaraços que constituem a relação de pai e filho. São as memórias usadas como ferramenta de enfrentamento do luto, da perda.
A escrita de Jeferson Tenório é gostosa de ler, flui bem e a forma com que optou por fazer Pedro dirigir as palavras ao próprio pai com certeza deu um aspecto único para o livro. Para quem quiser saber mais, o autor participou de um episódio do @dariaumlivropodcast. É só correr no Spotify para conferir!