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DIVERSOS

Quem matou meu pai, de Édouard Louis | Resenha

Um manifesto literário e íntimo. Com menos de 100 paginas, Édouard Louis constrói um texto híbrido, que combina críticas sociais à desigualdade e à sociedade opressora em que vivemos, com suas memórias, em especial a sua conturbada relação com seu pai, que não aceitava um filho gay. Se a autoaceitação de uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ já é um processo difícil e dolorido, enfrentar esses medos com a repulsa familiar é uma tarefa muito mais sofrida.

NOTA 9/10

DIVERSOS

Uma história desagradável, de Fiódor Dostoiévski | Resenha

Diferentemente do seus romances mais densos, que se aprofundam nos conflitos e angústias dos personagens, “Uma história desagradável” é uma obra curta e que revela um Dostoiévski mais cômico e menos psicológico. E o que começa com uma premissa bem humorada, acaba levando para um desenvolvimento desagradável - para não dizer caótico.

NOTA 9/10

FICÇÃO, LIVROS

NOTA 9,5/10

Becos da memória, de Conceição Evaristo | Resenha

Com 75 anos, Conceição Evaristo é uma das principais escritoras nacionais. E foi por isso que escolhi essa obra para representar o Brasil no Bookster pelo Mundo. Não podemos esquecer, por sua vez, que a autora teve um reconhecimento muito tardio, em virtude de ser mulher, negra e de origem humilde em um país de ainda poucas oportunidades.

No livro, a autora consegue construir a memória coletiva do Brasil. De um país marcado pela miséria, pela violência e pelo sentimento de não pertencimento que recai sobre os marginalizados. Em um local ou data não revelados, acompanhamos um triste processo de desmonte de uma favela, de uma comunidade inteira, que se vê sem esperança e sem futuro.

E apesar de ter sido escrito há algumas décadas, o livro ainda se mostra
atual e denuncia uma realidade que pouco mudou nos grandes centros urbanos. É uma população que não bastasse ainda carregar um passado de sofrimento por seus ancestrais escravizados, se vê sem espaço na sociedade, como se pudesse ser facilmente descartada.

Mas o que a autora nos mostra é a humanidade que preenche todos os becos dessa comunidade. São personagens que precisam sobreviver com uma força que muitas vezes parece faltar. E apesar dos sonhos que todos levam consigo, o desespero parece ficar à espreita, rondando aqueles seres humanos.

A linguagem de Conceição é seca e direta, mas ainda assim consegue carregar uma poesia em suas palavras. O título do livro também é muito representativo. As histórias que nos são narradas na obra são fruto da memória dos mais velhos, que buscam nos cantos de seu passado os acontecimentos vividos pelos becos da favela.

Termino essa resenha com a definição de “escrevivência”, criado pela autora:

“O termo tem como imagem fundante as africanas e suas descendentes escravizadas dentro de casa. Uma das funções delas era contar histórias para adormecer os meninos da casa-grande. (…) Hoje a escrevivência das mulheres negras não precisa mais disso. Nossas histórias e escritas se dão com o objetivo contrário: incomodar e acordar os da casa-grande. Não estamos aqui para ninar mais ninguém nem apaziguar as consciências.”

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Demian, de Hermann Hesse | Resenha

Quando você começa uma nova obra de um dos seus autores favoritos, é difícil de evitar as altas expectativas. “Demian” é um dos principais livros do escritor alemão Herman Hesse, que venceu o Prêmio Nobel da Literatura em 1964. Muitos leitores, inclusive, indicam esse livro como uma boa porta de entrada nas obras do autor, já que traz uma temática de adolescência, de formação de um jovem.

NOTA 8,5/10

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Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves | Resenha

Sabe aquela leitura que você mal começa e já quer sair indicando? Então, com “Um defeito de cor” foi bem assim. Levei mais de 2 meses para ler as quase mil páginas e fiquei esse tempo todo ansioso para poder fazer essa resenha para vocês e recomendar a leitura!

NOTA 10/10