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DIVERSOS

Quem matou meu pai, de Édouard Louis | Resenha

Um manifesto literário e íntimo. Com menos de 100 paginas, Édouard Louis constrói um texto híbrido, que combina críticas sociais à desigualdade e à sociedade opressora em que vivemos, com suas memórias, em especial a sua conturbada relação com seu pai, que não aceitava um filho gay. Se a autoaceitação de uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ já é um processo difícil e dolorido, enfrentar esses medos com a repulsa familiar é uma tarefa muito mais sofrida.

NOTA 9/10

DIVERSOS

Uma história desagradável, de Fiódor Dostoiévski | Resenha

Diferentemente do seus romances mais densos, que se aprofundam nos conflitos e angústias dos personagens, “Uma história desagradável” é uma obra curta e que revela um Dostoiévski mais cômico e menos psicológico. E o que começa com uma premissa bem humorada, acaba levando para um desenvolvimento desagradável - para não dizer caótico.

NOTA 9/10

FICÇÃO

NOTA 10/10

Vamos comprar um poeta, de Afonso Cruz | Resenha

Nas poucas páginas que compõem esse livro, fica evidente a genialidade do autor português – característica que eu já tinha escutado de outros leitores. A obra foge totalmente daquele conceito de romance que estamos acostumados a ler. Ela inova tanto na forma, como no conteúdo, usando uma premissa questionadora para construir a narrativa: “Numa sociedade dominada pelo materialismo, as famílias têm artistas em vez de animais de estimação”.

Digo questionadora porque a obra me fez refletir muito sobre os valores e a forma de vida das novas gerações – nas quais eu me incluo. Pode-se até classificar a história como uma distopia, já que, na sociedade apresentada por Afonso Cruz, o ideal utilitarista domina as ações individuais. A subjetividade perde totalmente seu espaço, dando lugar a um pensamento objetivo, exato e racional. Tudo é mensurado e calculado. O consumo deve ser sempre estimulado. No meio dessa inversão de valores, denunciada de forma inteligente e bem-humorada, é que os personagens passam a questionar a utilidade da arte.

Ora, para que serve uma manifestação como essa? Arte e cultura são uma contradição tão hedionda ao modo de pensar dessa sociedade que a função de um poeta sequer consegue entrar na cabeça desses seres tão matemáticos. E fazendo esse esforço, os personagens logo precisam colocar essa figura exótica e subversiva no meio da cadeia consumidora: vamos COMPRAR um poeta!

Além de ser um romance muito bem escrito e inovador, que fez acabar meus marcadores, o apêndice escrito por Afonso Cruz fecha a obra com chave de ouro, revelando ao leitor a importância da arte e cultura para o desenvolvimento de uma sociedade mais humana. Leitura para se fazer em pouco dias, mas que ficará marcada por bastante tempo, acendendo a vontade de cair de cabeça nas demais obras do autor.

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Um dos principais nomes da literatura nacional, Guimarães Rosa é conhecido por sua habilidade em criar a partir do uso da língua portuguesa e de criativas formas de narrativa. É como se cada palavra, muitas delas inventadas pelo autor, tivesse sido escolhida a dedo para estar naquela parte do texto.

NOTA 9/10

FICÇÃO

Paris é para sempre, de Ellen Feldman | Resenha

Quando pensamos em livros sobre a 2a Guerra, logo nos vêm à cabeça histórias que se passam nos campos de batalha ou em campos de concentração nazistas. Mas, no caso de “Paris é para sempre”, a autora cria uma narrativa mais focada nos traumas gerados pela guerra, isto é, em um período em que o conflito persiste apenas dentro das pessoas que vivenciaram dias tão violentos, o que faz da leitura muito interessante.

NOTA 8,5/10