A premissa desse livro é muito interessante, sobretudo quando consideramos as temáticas por ele abordadas e a época em que foi lançado, em 1969. A história é construída a partir de uma missão diplomática, em que um ser humano, Genly Ai, é enviado para Gethen, um planeta extremamente distante da Terra, para tentar convencer os governantes a integrar uma comunidade interestelar. E, para a supresa de Genly Ai, os indivíduos de Gethen não possuem gênero, são andrógenos.
Cada indivíduo nasce com um gênero neutro e, em cada período sexual, se desenvolverá para o que biologicamente entendemos como homem e mulher. Considerada como uma das principais referências no gênero da ficção científica, Le Guin desperta discussões muito interessantes sobre os papéis e as relações de gênero. Por meio do choque cultural vivenciado pelo protagonista, percebemos como muitas das características que associamos ao homem e à mulher estão ligadas tão somente a construções sociais.
A todo momento, Genly Ai acaba fazendo um paralelo com a nossa forma de sociedade, em que a mulher e o homem desempenham funções diferentes (imagine considerando a época em que foi publicado). Em Gethen, qualquer um pode gerar um filho e, quando não estão em sua fase sexual, vivem sem um instinto carnal influenciando suas decisões e atitudes.
Durante a leitura, também vamos encontrando reflexões sobre a sexualidade, relações de amizade e interesses políticos. A autora ainda se vale de uma escrita muito rica em sua obra. O foco não está apenas nos acontecimentos, mas também na forma como os cenários e sentimentos são descritos.
Mas confesso que o livro demora um pouco para engatar, até mesmo pela quantidade de nomes e termos associados ao novo planeta. Da mesma forma, algumas passagens podem ter um ritmo mais lento, com divagações e pouca ação. Por isso, não comece o livro esperando uma leitura repleta de aventura, mas tente aproveitá-lo levando em conta as temáticas nele trazidas e o seu caráter inovador e questionador para a época em que foi publicado.