Como é possível sabermos tão pouco sobre um dos episódios recentes mais tristes da humanidade? Por que não aprendemos na escola a história de um genocídio que, em 1994, exterminou mais de um milhão de pessoas em apenas 100 dias em Ruanda por conta de diferenças étnicas? Talvez o que acontece em um pequeno país no meio do continente africano possa não interessar muito aos meios de comunicação do ponto de vista político ou econômico… mas, independentemente disso, a gente pode corrigir esse filtro seletivo das informações que chegam até nós durante a juventude.
A história é, sim, extremamente triste. É visceral. Mas como seres humanos nós precisamos conhecer a nossa história, saber do que – infelizmente – somos capazes, até mesmo para evitar novos episódios como esse. Temos que saber que uma política discriminatória aparentemente inofensiva pode levar a um massacre coletivo, coisa de filme de terror. E é isso que o trabalho do jornalista norte-americano Philip Gourevitch, que passou três anos pesquisando sobre a tragédia, traz ao leitor. É um verdadeiro mergulho na história do país, percorrendo todo o período que antecedeu o genocídio, os próprios meses dos assassinatos em massa e os momentos seguintes ao acontecimento que deixou uma marca eterna nos cidadãos daquele país. São relatos com vítimas diretas de ataques, assassinos e pessoas ligadas ao governo.
A escrita é envolvente, mas Gourevitch não se importa em revelar detalhes assustadores do que aconteceu em Ruanda. É um livro que causa extremo desconforto no leitor, mas que é fruto de uma pesquisa profunda da mentalidade do povo ruandês. A obra é extensa e, por isso, recomendo que você alterne com um livro de ficção mais tranquilo, o que pode evitar que a leitura se torne um pouco repetitiva e cansativa. Li o livro antes da minha viagem para Ruanda e, com toda certeza, a leitura enriqueceu muito minha experiência na viagem! O país é incrível, assim como o seu povo, que conseguiu aprender com a tragédia e se transformar em uma referência de desenvolvimento para os países africanos.