Como é bom descobrir uma autora e uma obra tão incríveis! Esse foi um livro que conheci no final de 2019 e, desde que recomendei aqui no #desafiobookster2020, só recebi feedbacks positivos! Autora caribenha, nascida em 1937, Maryse Condé foi vencedora de diversos prêmios literários, tendo em 2018 recebido o New Academy Prize (Prêmio Nobel Alternativo).
A obra pode ser enquadrada na categoria de ficção histórica, em que a autora parte de um fato histórico verídico – a morte de Tituba, uma mulher negra e escravizada, condenada por bruxaria pelos tribunais de Salém – e utiliza a ficção para preencher as lacunas dos registros históricos.
A vida de Tituba é marcada por rejeição, perdas e sofrimento. O início do livro já nos antecipa o destino triste traçado para a personagem: “Abena, minha mãe, foi violentada por um marinheiro inglês no convés do Christ the King, num dia de 16**, quando o navio zarpava para Barbados. Dessa agressão nasci. Desse ato de agressão e desprezo.”
Escravizada ainda na infância, Tituba perde a sua mãe em um triste ato de violência e abuso. A partir disso, descobre e aprende com Man Yayá o poder das plantas e do “invisível” para fazer o bem ao próximo. E é justamente essa sua cultura, essa sua outra forma de enxergar a morte e a ciência, que são utilizados pelo grupos puritanos do século XVII para enquadrá-la como bruxa. Então ser bruxa é ser alguém que se pensa diferente e se coloca em risco para poder ajudar o outro?
E apesar do sofrimento desde o primeiro momento de sua vida, encontramos em Tituba uma mulher guerreira e que não se cala ante às discriminações que enfrenta ao longo da sua vida. Isso, na minha opinião, deixa o livro menos angustiante – embora não menos doloroso. Leitura incrível, que nos faz refletir e aprender sobre um período histórico a partir da perspectiva de uma personagem por muito tempo esquecida.
PS: o prefácio dessa edição contém spoiler.