Distopia é a descrição de uma sociedade “que deu errado” no futuro, geralmente governada por uma autoridade autoritária, que regula e limita a liberdade de seus cidadãos. Ou seja, é o oposto da sociedade utópica – perfeita – descrita pela primeira vez por Thomas Morus. Muito embora não seja o mais conhecido de seu gênero, “Nós” é considerado como o romance distópico original, o primeiro, e, inclusive, como responsável por influenciar grande autores como George Orwell e Aldous Huxley.
O enredo de “Nós” se passa em um futuro distante, em que uma guerra entre a cidade e o campo dizimou quase a totalidade da população. Hoje, os indivíduos são regulados pelo “Estado Único”, que estabeleceu regras extremamente rígidas: cada cidadão, designado por uma sigla, tem função exata e deve trabalhar e viver sempre pensando no coletivo, para permitir o funcionamento das engrenagens dessa sociedade “ideal”. Em “Nós”, a noção da individualidade é ultrapassada e a imaginação é considerada uma doença.
A narrativa é construída a partir do diário de D-503, uma matemático responsável por construir uma nave especial projetada para disseminar para outras galáxias os benefícios e segredos dessa sociedade perfeita. Assim, em seus relatos, D-503 discorre sobre a filosofia do Estado Único e sobre o seu dia a dia sempre previsível.
Não há como negar que as premissas adotadas por Zamiátin ao criar o universo de “Nós” são interessantes e revelam a genialidade do autor ao inovar. No entanto, infelizmente não gostei da forma com que a história foi desenvolvida. Achei a escrita extremamente truncada, com passagens confusas, que comprometem a fluidez do texto e até mesmo a compreensão do leitor. Além disso, os personagens são construídos de forma superficial e não conseguiram me cativar. Não descarto a possibilidade de essas características da obra terem sido intencionalmente construídas pelo autor, para refletir a cabeça confusa e desprovida de sentimentos de um cidadão do “Estado Único”. Mas se essa foi a ideia de Zamiátin, na minha opinião acabou prejudicando muito a experiência do leitor. No final, a leitura estava entediante e eu só queria terminar logo o livro …
Ou seja, é uma leitura interessante, principalmente por seu papel inovador, mas que deixou muito a desejar. A edição que ganhei da Editora Aleph é digna de elogios e traz textos de apoio que enriquecem a leitura.
“Não existe revolução final, as revoluções são infinitas.”
Edição: Editora Aleph (2017)
Número de páginas: 332
Ano original da publicação: 1924