Graciliano tem uma habilidade admirável de criar personagens com densidade psicológica, quase como se pudessem sair andando pelas páginas. Em “Angústia”, talvez o autor tenha conseguido criar o mais real deles, Luís Pereira da Silva, e isso justifica o título da obra, já que o leitor realmente compartilha esse sentimento atormentador com o protagonista.
Luís é um homem desiludido e que sofre não apenas pela sua vida solitária e frustrada de funcionário público, mas também por conta de uma paixão não correspondida. Ao intercalar presente e passado, esse personagem – que pode facilmente ser definido como detestável – nos conta desde o primeiro momento quando conheceu a sua vizinha, Marina, por quem passou a desenvolver uma verdadeira obsessão. E a forma como Graciliano narra toda essa ansia do personagem é impressionante, porque carrega o leitor fundo nos pensamentos de Luís.
É possível sentir toda essa ansiedade, angústia e desespero vivenciado nas páginas do livro, que acabam levando Luíz para um declínio. E se o leitor consegue sentir isso é porque Graciliano se valeu de uma escrita bem mais densa e lenta. Há uma dedicação no desenvolvimento psicológico do Luís, o que para alguns leitores pode ser desafiador. Mas, repito, é um processo necessário – ainda que talvez em excesso, no caso – para a criação de um personagem tão real e capaz de transmitir suas emoções. Graciliano também utiliza bastante da técnica do fluxo de consciência para expor o que se passa – de forma desordenada e ansiosa – na cabeça de Luís.
Além disso, como a obra se passa em uma época de repressão do governo de Getúlio Vargas, é muito interessante como o autor também insere críticas sociais a partir da visão do protagonista. Inclusive, a questão social e política extravasa as páginas de “Angústia”, já que Graciliano foi preso pouco tempo depois de finalizar a obra.
Gostei bastante, mas é um caminho lento e desafiador. Exige atenção e paciência do leitor, mas nas últimas páginas o ritmo aumenta e a experiência acaba valendo o esforço!