368 páginas. 2 meses de leitura. Parece muito tempo, né? E realmente foi um livro que me tomou mais dias do que o normal. E isso não significa que eu não gostei da leitura. Pelo contrário, foi uma experiência muito positiva. E isso é bom para pensarmos o quanto a preocupação em ler rápido pode atrapalhar uma leitura. Eu sempre falo: cada livro tem um ritmo, a depender do leitor.
Carson McCullers escreveu com apenas 23 anos um dos principais romances da literatura norte-americana do século passado. É incrível como a autora, ainda tão jovem, conseguiu construir personagens tão profundos e distintos entre si. Ao longo da leitura, acompanhamos a perspectiva de 5 personagens diferentes, em um cenário pobre e racista no sul dos Estados Unidos às vésperas da 2ª Guerra Mundial.
É até difícil escrever sobre a narrativa, já que não é um enredo com tantos acontecimentos. É mais uma observação da vida desses personagens tão distintos, que têm em comum uma relação com Singer, um homem mudo e que, apesar da ausência de seus diálogos, consegue nos transmitir uma humanidade imensa. Ele vive solitário e acaba, de uma forma muito simples, tocando a vida daqueles à sua volta. Fiquei com a sensação de estar diante de um personagem muito puro.
Ainda temos Mick, uma garota que vive uma vida de pequenas aventuras e que vivência situações que exigem uma maturidade maior daquela esperada para a sua idade. Brannon é dono de um bar e tem uma relação conturbada com sua esposa. Benedict é um médico negro que atende os pacientes por caridade e possui relações familiares complexas. Por fim, temos Jake Blount, um personagem com ideologias mais extremas.
Gostei bastante da leitura. Como disse, ela exige paciência, não há grandes acontecimentos, mas o mergulho na pequena cidade e nas relações entre personagens tão profundos me prendeu. O destaque fica para o personagem Singer e as reflexões sobre a natureza humana que suas atitudes despertam.