Ambientado em uma Cuba assolada por intrigas políticas, em plena transição da Revolução, “Fabián e o caos” relata os encontros e desencontros entre duas pessoas muito diferentes. De um lado temos Pedro Juan – inspirado no próprio autor – que vive em busca de sexo e álcool. De outro lado conhecemos Fabián, um personagem peculiar, com traços introvertidos e que nutre uma paixão pelo piano. Além disso, Fabián é homossexual.
E é a historia de Fabián que mais impressiona o leitor. Impressiona de forma negativa, tamanha a solidão que habita dentro do personagem. Por ser homossexual, Fabián era considerado como portador de um “desvio ideológico”, que justificava a sua exclusão do seio da sociedade. Por isso, não bastasse ter sido criado por pais caóticos, o personagem também passa a viver na margem da sociedade. O destino de um pianista apaixonado pela música é uma fábrica de enlatados. E essa invisibilidade de Fabián, que não pertence a lugar algum, incomoda – e muito. Chega a dar uma vontade de poder conversar com ele e tentar suprir um pouco dessa total falta de afeto.
Mas é essa capacidade de incomodar o leitor que tanto me impressiona na obra do autor cubano. Gutierrez escancara a condição selvagem do ser humano, largado pelo Estado e que luta para sobreviver. E para quem luta pela sobrevivência, os laços afetivos e as emoções não tem lugar a ocupar.
A vida de Pedro Juan também carrega essa característica animalesca, embora não transmita tanta solidão. O personagem vive em busca de sexo e bebidas, verdadeiros refúgios do caos em que vive. E a linguagem crua e direta contribui para a construção desse cenário.
O contexto histórico também é muito interessante no livro. Os pais de Fabián saem da Espanha em busca de uma Cuba em desenvolvimento. Mas a riqueza da família desaparece com a revolução implementada por Fidel Castro. A estatização total das empresas estrangeiras, com a tomada de terras pelo governo, levou grande parte da população à pobreza e ao racionamento. As consequências da ditadura são devastadoras e caóticas.
Sou fã do autor! Resenha em homenagem ao mês do orgulho LGBTQ+.