Há alguns anos, quando conheci Murakami, confesso que li um livro atrás do outro do autor. E apesar – ou talvez, por conta – desse momento intenso de Murakami, passei os últimos anos sem ler nenhuma das suas obras. Eu colocava algum livro nas próximas leituras, mas outros acabavam passando na frente.
No mês passado, tive a sorte de começar a ler “O incolor”. E digo sorte porque isso me lembrou dos motivos da minha fase Murakami. Já nas primeiras páginas fiquei empolgado com a forma que o autor descreve a relação de Tazaki, o protagonista, e seu grupo de amigos – sobretudo a presença das cores nesse universo.
O romance é atual e reflete a solidão que recai sobre as novas gerações, principalmente os jovens orientais. O protagonista, um construtor de estações de trens, vive em Tóquio. Apesar de tantas pessoas a sua volta, Tazaki passa a maioria dos seus dias sozinho. Na verdade, ele é acompanhado por um trauma do passado: de um dia para o outro, o seu grupo de amigos inseparáveis corta as relação com Tazaki.
O problema é que o protagonista nunca os questionou sobre os motivos daquela decisão. E essa dúvida passou a ser tão dolorida que o personagem flertava com o fim de sua vida. No entanto, quando uma mulher acaba ganhando espaço na sua vida, Tazaki passa a encontrar uma certa coragem para enfrentar esse passado e, finalmente, conseguir se livrar desse fantasma.
Murakami consegue construir um personagem contemporâneo e descrever as suas angústias de uma forma simples, mas muito consistente. Não há uma dualidade entre certo e errado, mas sim a busca das versões de cada um daqueles envolvidos na história. A nostalgia e melancolia características do autor também estão presentes na obra.
Apesar do clima mais lento, a narrativa me prendeu e a evolução dos acontecimentos deu um ótimo ritmo para a leitura. Fica minha baita recomendação, inclusive se você nunca leu nada do autor.