Comprar um caderno para usar de diário é um ato de liberdade. Ao menos para uma mulher na Itália da década de 50. Valeria, uma mulher de cerca de 40 anos, se coloca sempre em último plano. Seu marido, que a chama de “mamãe”, e seus filhos são a prioridade. Talvez por isso ela enxergue o ato de escrever e de refletir como uma transgressão. Teria ela direito de tirar um tempo para si, para seus próprios conflitos internos?
A leitura é feita a partir do próprio diário, em um período de cerca de 6 meses. Lemos as descobertas que a protagonista vai fazendo sobre a sua própria situação. São reflexões sobre a maternidade, o casamento, o trabalho e as dificuldades de lidar com as diferenças geracionais entre a sua educação e de seus filhos.
É muito interessante – e ao mesmo tempo incômodo – de perceber como o processo de consciência que Valeria vai tendo sobre a sua realidade e suas insatisfações assusta a protagonista. Seria melhor deixar esses pensamentos de lado e apenas seguir a vida no automático?
E a atualidade da história de Valeria impressiona. Publicado em 1952, há mais de 70 anos, a obra da autora italiana ainda revela muitos dos anseios e sentimento de culpa que assombra as mulheres. A dificuldade de conciliar o trabalho com a criação dos filhos e o cuidado da casa. A necessidade de sempre precisar se mostrar capaz. O medo de dar uma chance aos próprios desejos. E a lista não caberia aqui nesse pequeno espaço.
Aos poucos, uma nova figura acaba tomando um papel maior nos seus sentimentos e Valeria acaba se vendo em um impasse. Uma leitura muito fácil, envolvente e que desperta inúmeras reflexões no leitor. A autora influenciou Elena Ferrante e, sem dúvidas, continuará impactando inúmeras novas histórias.
E o livro foi o escolhido para o tema LIBERDADE do #DesafioBookster2024.