“Parece qualidade fora de moda, essa de um livro ’prender’. Acho qualidade essencial, invejável. (…) A primeira pausa, a primeira mesmo, vem exatamente e apenas no fim.” Foi assim que Clarice Lispector descreveu a experiência de ler esse clássico da literatura brasileira. Publicado em 1956, a obra do escritor mineiro Fernando Sabino é um brilhante romance de formação de um jovem escritor, Eduardo Marciano.
A nova edição comemorativa pelo centenário de Sabino já inicia com um texto do autor brasileiro Michel Laub – de quem gosto muito – sobre a relevância da obra para a literatura nacional. Comecei a narrativa sem muito saber sobre o estilo do autor e fiquei impressionado, logo no início, com o ritmo que ele consegue impregnar em seu texto.
Com o passar dos anos, o protagonista passa a viver uma longa crise existencial, questionando o verdadeiro sentido da vida. Em uma história marcada por bares e conversas filosóficas com seus amigos e com outros personagens que encontra ao acaso, Eduardo acaba descortinando os conflitos de uma geração. São relacionamentos problemáticos, insatisfações profissionais e falta de sonhos. E, para complementar, Eduardo é um personagem que não gera qualquer admiração pelo leitor (para dizer o mínimo).
A forma com que o autor construiu o texto é peculiar. Diálogos que vão se alternando, em
situações e com personagens distintos. Em alguns momentos, o leitor precisa ficar mais atento, mas nada que tenha prejudicado a leitura. Pelo contrário: achei um estilo interessante, que refletiu um pouco do ar caótico que o protagonista transparecia. Um caos sem solução e, até mesmo, que sequer consegue ser compreendido.