É cada vez mais frequente escutarmos sobre o problema de idealizarmos o relacionamento perfeito, a busca pela alma gêmea e o viveram felizes para sempre, que costumamos assistir em filmes e de pessoas que acompanhamos nas redes sociais. Mas será que o relacionamento precisa ser perfeito para ser marcante e duradouro? Não estaria o amor também presente nos momentos difíceis e de imperfeições?
Em “Carta a D.”, o filósofo austro-francês nos convida a conhecer, por meio de uma belíssima declaração de amor, um pouco do seu relacionamento de quase seis décadas com sua companheira. Publicado em 2006, o Gorz escreve para Dorine, relembrando tantos momentos de companheirismo, quando sua esposa já sofre de uma doença degenerativa irreversível. E até diante dessa certa da não cura, o autor consegue demonstrar o cuidado e a admiração por quem viveu tanto tempo ao seu lado, como já encontramos no início do seu texto:
“Você está para fazer 82 anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que 45 quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz 58 anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca.”
Mas, antes de ler, é importante você saber que a declaração não foi construída a partir de uma escrita poética ou que o texto se restringe à relação do casal. Talvez a própria formação de filósofo de Gorz explique o fato de o autor também mergulhar no contexto histórico dos momentos em que viveram, abordando ainda temas políticos e filosóficos, com um pano de fundo sobre a sua vida que extrapola a relação com Dorine.
E a história dos dois tem um final que não está na declaração, mas que certamente é digna de um livro: um anos depois da publicação de “Carta a D.”, Gorz e Dorina triaram a própria vida juntos. O bilhete deixado pelo filósofo está ao final da edição.
Um livro curtinho, mas que nos faz refletir e, porque não, acreditar no amor.