100 ano de história de uma família. É essa a proposta de “Arroz de Palma”, belíssimo romance sobre imigrantes que vêm de Portugal para o Brasil no início do século passado. O ponto de partida da narrativa é um casamento celebrado em 1908. Só que diferentemente do que você imagina, o mais importante desse evento não é apenas a história dos noivos, mas também os grãos de arroz que são jogados sobre eles para desejar prosperidade e fertilidade.
Ao ver o arroz esquecido na porta da igreja, Palma, a irmã do noivo, decide catar grão por grão como forma de recordação daquele momento tão importante e presenteá-los aos noivos. O que ela não imagina é que esse gesto dá início a uma tradição que seguirá os descendente dessa família por um século, sendo testemunho de novos amores, brigas e reconciliações.
Confesso que romances geracionais como esse estão no topo dos estilos favoritos de leitura. Gosto de acompanhar as novas gerações, com o amadurecimento dos personagens, ao mesmo tempo que percebo as mudanças no cenário político e social. E, na minha opinião, Francisco Azevedo faz isso com muita habilidade. O autor consegue não apenas criar personagens bem construídos e um enredo interessante, mas também se vale de uma escrita poética. E para dar um toque a mais na narrativa, “Arroz de Palma” ainda apresenta elementos do realismo mágico, atrelados à figura de Palma.
Por tudo o que escrevi, e pelo que ainda você vai encontrar na leitura, “Arroz de palma” é um livro delicioso, daqueles que dificilmente alguém não vai gostar. Só faço uma consideração: em um momento, quando trata de um personagem gay, o narrador – um senhor de 88 anos – faz menção ao termo opção sexual. Talvez isso seja um reflexo de o livro ter sido escrito há mais de 10 anos, mas ainda assim acho importante destacar que o correto é sempre orientação sexual. Nunca é uma escolha.