Moradores de uma comunidade em Porto Alegre, Pedro e Marques são os grandes “heróis” dessa brilhante narrativa. E o cenário de atuação “heróica” (de novo entre aspas) dos dois personagens não podia ser um retrato mais real e rotineiro das grandes cidades do Brasil: um supermercado de uma grande rede, daqueles que vemos aos montes pelo país.
Saturados de tanta desigualdade, e de (sobre)viver a uma vida de injustas dificuldades, Pedro tem um plano que pode tirá-lo da pobreza: vender maconha na vila em que mora. Para conseguir desenvolver sua estratégia, precisa de um comparsa e logo consegue convencer seu colega de trabalho, Marques. O disfarce dos dois é bem convincente: são supridores do supermercado Fênix, isto é, são responsáveis por reabastecer as estantes e cuidar do estoque do local. Pedro parece confiar no seu plano, e nos baixos riscos que ele apresentaria… mas não precisa de muita vivência para saber que isso não passa de um otimismo desesperado.
A escrita de Falero conquista facilmente o leitor. Uma linguagem coloquial, intercalada com um narrador bem eloquente, que desperta boas reflexões. Não sei se eu fui conquistado logo na primeira página, mas não tenho duvidas que foram poucas páginas para que isso acontecesse. O autor retrata uma sociedade atual e extremamente desiludida. Não há esperanças de melhora e isso pode colocar o cidadão a repensar muito dos seus valores.
Não é uma tentativa fe defender a escolha de ninguém. Mas sim uma denuncia do dia a dia desse país pelas ruas e ruelas de realidades que muitas vezes sequer vamos conhecer.
Mais uma prova de que nossa literatura nacional contemporânea promete muito! Desafio Bookster 2022 está sendo incrível!