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Quem matou meu pai, de Édouard Louis | Resenha

Um manifesto literário e íntimo. Com menos de 100 paginas, Édouard Louis constrói um texto híbrido, que combina críticas sociais à desigualdade e à sociedade opressora em que vivemos, com suas memórias, em especial a sua conturbada relação com seu pai, que não aceitava um filho gay. Se a autoaceitação de uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ já é um processo difícil e dolorido, enfrentar esses medos com a repulsa familiar é uma tarefa muito mais sofrida.

NOTA 9/10

DIVERSOS

Uma história desagradável, de Fiódor Dostoiévski | Resenha

Diferentemente do seus romances mais densos, que se aprofundam nos conflitos e angústias dos personagens, “Uma história desagradável” é uma obra curta e que revela um Dostoiévski mais cômico e menos psicológico. E o que começa com uma premissa bem humorada, acaba levando para um desenvolvimento desagradável - para não dizer caótico.

NOTA 9/10

FICÇÃO, LIVROS

NOTA 9/10

Nossa Senhora do Nilo, de Scholastique Mukasonga | Resenha

O genocídio de Ruanda, ocorrido em 1994, é um dos episódios mais tristes e brutais sobre os que já li. Cerca de 1 milhão de pessoas foram mortas em apenas 100 dias. Além disso, ter visitado o país em 2019 me permitiu ver de perto como esse acontecimento está marcado profundamente na sociedade, ao mesmo tempo que Ruanda vem demonstrado um forte exemplo de reestruturação social e econômica no continente africano.

Scholastique Mukasonga é ruandesa de origem Tutsi e, apesar de ter conseguido fugir e sobreviver ao genocídio, perdeu diversos membros da sua família. Em “Nossa Senhora do Nilo, Mukasonga se distancia do centro dos acontecimentos de 1994 e nos leva a um liceu católico de meninas, situada nos altos das montanhas da bacia do Nilo. Estamos anos antes ao massacre, mas já conseguimos enxergar no próprio microcosmo da escola como a segregação de etnias foi sendo construída no seio da sociedade ruandesa.

O liceu adota um sistema de cotas, em que 10% das vagas são separadas para as alunas da etnia Tutsi, a qual foi vítima dos crimes e das perseguições que culminaram no genocídio. As meninas, que vivem em uma sociedade machista e patriarcal, devem se submeter a rígidas regras impostas pelas freiras que controlam a instituição. As garotas Tutsis ainda sofrem com a crescente discriminação e desprezo das suas colegas.

A igreja é retratada de mãos atadas – e às vezes até apoiando o regime dos Hutus – em uma situação de extrema injustiça. A preocupação era muito mais de tentar catolicizar os ruandesas, tornando abomináveis qualquer culto às antigas tradições, do que proteger quem necessitava. Também é possível notar a inércia dos antigos colonizadores, representados pelos professores da instituição, diante do perigo que parte de suas alunas enfrentava. É um reflexo do comportamento dos países desenvolvidos no início da década de 90.

Vale pontuar que o livro não é focado apenas em acontecimentos. A autora se dedica a apresentar ao leitor características da sociedade ruandesa daquela época. Uma ótima introdução ao cenário que culminou na guerra civil e no genocídio de 10% da população ruandesa.

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