Até que ponto a ciência pode interferir na natureza humana? E quais as consequências? Nessa obra, o limite entre ciência e ética foi testado. Um experimento conduzido em uma universidade promete algo aparentemente louvável: melhorar a inteligência daqueles que, por motivos diversos, vivem com alguma deficiência intelectual.
Charlie é escolhido para testar essa nova tecnologia. E, ao longo da obra, vemos a sua evolução por meio dos “relatórios de progresso”, que nada mais são que um diário do dia a dia do personagem. A obra é, portanto, escrita a partir da perspectiva de Charlie, sempre em primeira pessoa.
No início, os relatórios de progresso refletem a deficiência de Charlie, que tem extrema dificuldade de escrever e se expressar. Mas não é só isso: é possível perceber como Chralie tem uma visão inocente sobre as pessoas e as situações à sua volta. Ele não percebe as discriminações que sofre dos colegas de trabalho ou até mesmo não parece entender direito o que o procedimento inovador pode mudar em sua vida. É um indivíduo que vive em sua própria realidade e, muitas vezes, é incompreendido.
No decorrer de sua recuperação, a melhora da “inteligência” de Charlie começa a ser vista na sua escrita e na forma mais detalhada com que ele passa a descrever os momentos do seu dia. A melhora é, inclusive, percebida pelo personagem, que passa a ter consciência da discriminação que sofria e, com isso, sua inocência acaba virando revolta. Será que ele era mais feliz? E é justamente esse o ponto que achei mais interessante no livro, como o próprio personagem vai entendo a sua condição, analisando como era ser uma pessoa que vivia a par da sociedade.
Confesso, contudo, que a leitura não me cativou tanto. Talvez pelo fato de ter sido escrito em forma relatos, não consegui me apegar tanto ao personagem, o que melhor no final (senti o começo da narrativa um pouco artificial e, por isso, demorei para engatar).
Mesmo assim, recomendo a leitura, principalmente pelas reflexões sobre a perspectiva daquele que é visto como inferior! Escrito em 1959, mas muito atual!