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DIVERSOS

Quem matou meu pai, de Édouard Louis | Resenha

Um manifesto literário e íntimo. Com menos de 100 paginas, Édouard Louis constrói um texto híbrido, que combina críticas sociais à desigualdade e à sociedade opressora em que vivemos, com suas memórias, em especial a sua conturbada relação com seu pai, que não aceitava um filho gay. Se a autoaceitação de uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ já é um processo difícil e dolorido, enfrentar esses medos com a repulsa familiar é uma tarefa muito mais sofrida.

NOTA 9/10

DIVERSOS

Uma história desagradável, de Fiódor Dostoiévski | Resenha

Diferentemente do seus romances mais densos, que se aprofundam nos conflitos e angústias dos personagens, “Uma história desagradável” é uma obra curta e que revela um Dostoiévski mais cômico e menos psicológico. E o que começa com uma premissa bem humorada, acaba levando para um desenvolvimento desagradável - para não dizer caótico.

NOTA 9/10

FICÇÃO

NOTA 9/10

Fabián e o caos, de Pedro Juan Gutierrez | Resenha

Ambientado em uma Cuba assolada por intrigas políticas, em plena transição da Revolução, “Fabián e o caos” relata os encontros e desencontros entre duas pessoas muito diferentes. De um lado temos Pedro Juan – inspirado no próprio autor – que vive em busca de sexo e álcool. De outro lado conhecemos Fabián, um personagem peculiar, com traços introvertidos e que nutre uma paixão pelo piano. Além disso, Fabián é homossexual.⁣

E é a historia de Fabián que mais impressiona o leitor. Impressiona de forma negativa, tamanha a solidão que habita dentro do personagem. Por ser homossexual, Fabián era considerado como portador de um “desvio ideológico”, que justificava a sua exclusão do seio da sociedade. Por isso, não bastasse ter sido criado por pais caóticos, o personagem também passa a viver na margem da sociedade. O destino de um pianista apaixonado pela música é uma fábrica de enlatados. E essa invisibilidade de Fabián, que não pertence a lugar algum, incomoda – e muito. Chega a dar uma vontade de poder conversar com ele e tentar suprir um pouco dessa total falta de afeto. ⁣

Mas é essa capacidade de incomodar o leitor que tanto me impressiona na obra do autor cubano. Gutierrez escancara a condição selvagem do ser humano, largado pelo Estado e que luta para sobreviver. E para quem luta pela sobrevivência, os laços afetivos e as emoções não tem lugar a ocupar. ⁣

A vida de Pedro Juan também carrega essa característica animalesca, embora não transmita tanta solidão. O personagem vive em busca de sexo e bebidas, verdadeiros refúgios do caos em que vive. E a linguagem crua e direta contribui para a construção desse cenário.⁣

O contexto histórico também é muito interessante no livro. Os pais de Fabián saem da Espanha em busca de uma Cuba em desenvolvimento. Mas a riqueza da família desaparece com a revolução implementada por Fidel Castro. A estatização total das empresas estrangeiras, com a tomada de terras pelo governo, levou grande parte da população à pobreza e ao racionamento. As consequências da ditadura são devastadoras e caóticas. ⁣

Sou fã do autor! Resenha em homenagem ao mês do orgulho LGBTQ+.⁣

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Até que ponto a ciência pode interferir na natureza humana? E quais as consequências? Nessa obra, o limite entre ciência e ética foi testado. Um experimento conduzido em uma universidade promete algo aparentemente louvável: melhorar a inteligência daqueles que, por motivos diversos, vivem com alguma deficiência intelectual. ⁣⁣

NOTA 8/10

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Quando se discute como o poder judiciário pode ser falho, são casos como o de Anthony Hinton que vem à cabeça. Imagine passar 30 anos no corredor da morte, enquanto se tenta de toda forma mostrar que não cometeu um crime, para, só então, ser declarado inocente. Foi esse nível de injustiça que o autor sofreu e busca compartilhar em sua autobiografia.⁣

NOTA 7,5/10