Elena Ferrante é uma das autoras mais vendidas atualmente e é conhecida pelos seus romances que cativam e prendem o leitor. Não comecei por sua obra mais famosa, a Tetralogia Napolitana (série com 4 livros), porque queria uma obra que estivesse menos no “hype”! A escolha de “Dias de abandono” também foi influenciada por outra obra que li esse ano: “Laços”, de Domenico Starnone (já tem resenha aqui). Isso porque há um inegável diálogo entre os dois livros. Na verdade, como Elena Ferrante é um pseudônimo e sua identidade verdadeira nunca foi confirmada, há suspeitas de que a autora seja esposa de Starnone ou, até mesmo, o próprio autor de “Laços”.
Independente disso, fato é que o meu primeiro contato com a autora italiana começou muito bem, mas não terminou da forma que esperava. O enredo gira em torno de Olga, uma mulher que depois de 15 anos casada com Mario, recebe a notícia de que está sendo abandonada. Olga perde o chão. A partir daí têm início os seus dias de abandono, ou melhor, de sofrimento, em um apartamento onde vive com seus dois filhos e um cão. Com uma narrativa em primeira pessoa, o leitor passa a acompanhar os pensamentos de Olga, que a paralisam e são encobertos pelo desespero, medo e angústia. Sim, é um livro perturbador (!!) e, no começo, a personagem de Olga descrita e desenvolvida como alguém que perde o suporte emocional é extremamente interessante. É o retrato da dificuldade de aceitação de uma perda, misturada com o sentimento de tentar se reconstruir e conviver com essa nova realidade. Em algumas passagens, tive a sensação de que a personagem estava delirando e que os seus pensamentos não condiziam com a realidade.
Apesar da inegável qualidade de escrita da autora, que se vale de uma linguagem fluída, crua e econômica, ao final da leitura senti que Ferrante se perdeu um pouco e passou a recorrer a lugares-comuns, terminando com uma personagem exagerada e de certa forma previsível. É um livro curto, mas que traz várias reflexões sobre relações humanas e sofrimento.