No entanto, depois de terminada a leitura, posso afirmar que a obra é excelente. Atwood conseguiu criar um romance distópico muito interessante, trazendo questionamentos atuais e polêmicos. A narrativa se passa em Gilead, um estado teocrático, machista e totalitário, em que a religião dita as regras de forma extremamente rígida e as mulheres são transformadas em “objetos”, com funções previamente designadas. Offred, a protagonista, é uma “aia” e, portanto, sua existência está atrelada à mera função de procriação. As “aias” são um verdadeiro útero para as elites ou, como a própria protagonista diz, “somos úteros de duas pernas, isso é tudo: receptáculos sagrados, cálices ambulantes”. A autora conseguiu explorar o psicológico da protagonista de uma forma muito inteligente, criando um verdadeiro contraste com o conservadorismo caraterístico dessa nova sociedade. São as emoções e pensamentos de alguém que vivia em uma sociedade livre como a nossa, mas que passou a se submeter a novos ideais e a uma nova forma de comportamento, constantemente controlado. A escrita também é bem fácil, rápida e instigante, com ótimas descrições dos locais em que se passa a história. Apesar da curiosidade por mais informações, Atwood consegue prender o leitor ao longo do livro, revelando os detalhes aos poucos. A título de curiosidade, o retorno da obra para a lista de mais vendidos se deu em grande parte pelo governo Trump, uma vez que muitos consideram essa sociedade distópica como uma possível previsão para o futuro dos EUA. Um livro chocante e, ao mesmo tempo, atual!
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