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DIVERSOS

10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho, de Elif Şafak | Resenha

A premissa desse livro, da autora turca Elif Shafak, é incrível e afeta diretamente a estrutura da narrativa. A obra parte de um dado sobre o funcionamento do nosso corpo, com base em observações científicas: após o coração parar de bater, o nosso cérebro ainda apresentaria atividades por até 10 minutos e 38 segundos. E Elif Shafak se vale dessa informação para dar início a história de Leila Tequila, já que logo na primeira página nos deparamos com a informação que a protagonista teria sido assassinada.

NOTA 9/10

DIVERSOS

Carta ao pai, de Franz Kafka | Resenha


Quais os impactos que uma relação conturbada entre com o pai pode trazer para a vida de um filho? A partir de uma longa carta escrita por Kafka ao seu pai, Hermann Kafka, em 1919, podemos concluir que as marcas são duradouras e complexas. O texto é muito potente e nos dá a sensação de mergulhar na intimidade de alguém, como se estivéssemos abrindo um diário que nunca deveria ter sido lido.

NOTA 9/10

DIVERSOS

NOTA 9/10

A cegueira do rio, de Mia Couto | Resenha

A importância da memória coletiva. É sobre esse tema que o autor moçambicano Mia Couto constrói o seu mais recente romance. Os seus personagens nascem para impedir que um acontecimento histórico brutal tenha uma única versão, comandada pelo colonizador branco.

Em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, diversos soldados africanos e um militar português são assassinados pelo exército alemão. Mais uma triste mancha na História de Moçambique, que revela a luta da população local contra o invasor. E é a partir desse acontecimento verídico que Mia Couto utiliza a sua escrita poética e o realismo mágico característico de sua obra para recontar a tragédia. É relembrar para impedir o esquecimento.

Os personagens que conduzem a narrativa são diversos. Uma portuguesa que vai para Moçambique em busca da salvação de sua filha. Um padre que pretende reescrever a bíblia. Um sicário moçambicano se vê obrigado a se misturar aos brancos e lutar ao lado deles. Um oficial e médico alemão responsável por dar ordens brutais. Aos poucos, essas vidas se cruzam nas páginas e eles precisam lidar com um acontecimento inédito: a cegueira do rio.

Os brancos esquecem como ler e escrever. As letras se tornam borrões e eles precisam recorrer a ajuda do povo africano. A arma da escrita muda de mãos, em uma verdadeira inversão da sistemática do colonialismo.

Além de um enredo interessante, a construção do texto é muito peculiar. O autor se vale não apenas de uma narrativa tradicional, mas utiliza diversos provérbios africanos e relatos em primeira pessoa dos personagens para dar prosseguimento à história. O começo pode parecer um pouco confuso, pois há uma alternância entre as vozes, mas aos poucos fui me acostumando.

Vencedor do Prémio Camões de Literatura, terminei a leitura ainda mais impressionado com a habilidade do autor com as palavras e com a língua portuguesa. Ele nos conta a história de uma forma profunda e sem deixar as críticas sociais e políticas de lado. Mia Couto deve ser lido sem moderação.

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De onde eles vêm, de Jeferson Tenório | Resenha

Radicado em Porto Alegra, Jeferson Tenório é, hoje, um dos exemplos do alcance que a literatura nacional contemporânea vem atingindo. O sucesso “O avesso da pele”, vencedor do Prêmio Jabuti, vendeu milhares de cópias no Brasil - e fora dele -, confirmando a importância de valorizamos o que vem sendo produzido pelos nossos autores.

NOTA 9/10

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Narciso e Goldmund, de Hermann Hesse | Resenha

O vencedor do Nobel de 1946 tem uma extensa produção literária e, em seus romances, abordar questões filosóficas e existenciais. “Sidarta”, “O lobo da estepe” e “Demian” são alguns dos que li e que me despertaram o interesse no autor. Com “Narciso e Goldmund”, que estava esgotada há anos no Brasil, o autor repete a sua forma de escrever e cria uma narrativa sobre dois amigos, repleta de boas reflexões. É um romance sobre opostos.

NOTA 8,5/10