Para quem já leu alguma obra de Conceição Evaristo, um dos principais nomes da literatura nacional, sabe que a potência de suas narrativas está, em boa parte, na força das suas personagens mulheres. Em “Canção para ninar menino grande”, no entanto, temos uma característica que a distingue dos demais livros: a narrativa tem como personagem principal uma figura masculina, Fio Jasmim. Mas, mesmo assim, as mulheres ainda têm papel central na obra, já que a vida do protagonista é contada a partir da perspectiva das mulheres com que se relacionou.
Trabalhando como assistente de maquinista de um trem, a cada parada o personagem conhece novas mulheres que vivem naquelas cidades por ele desconhecidas. E em cada capítulo, encontramos uma história diferente dessas mulheres que se apaixonaram e, de algum modo, foram abandonadas por esse personagem tão marcante.
E o que eu achei muito interessante é que, da mesma forma que a autora escreve sobre mulheres que sofrem com a desilusão de uma masculinidade tóxica, Conceição também aborda os problemas dos estereótipos que envolvem o homem negro. Como Fio Jasmim lida com a imagem de uma figura sempre viril e apaixonante? O que aos poucos vamos percebendo é que talvez essa vontade insaciável de Fio Jasmim também seja um reflexo da sua própria carência, em uma busca de preencher um vazio interno. É uma tentativa de exercer o papel de príncipe que a ele foi negado.
Como bem descreveu Jerferson Tenório, o autor de “O avesso da pele”, esta obra é um “mergulho na poética da escrevivência”. Gostei demais das histórias contadas por Evaristo e terminei o livro curto querendo saber mais sobre o que cada uma daquelas mulheres ainda tinha para contar. Leiam Conceição Evaristo!