Sexualidade, relações familiares e saúde mental. Três temas que despertam muito meu interesse e que marcam o fio narrativo da obra de estreia do francês Panayotis Pascot. Depois de conquistar sua fama nos palcos de stand-up comedy, o humorista mergulha em suas memórias para escrever um livro impactante e que dialoga com muitas das questões enfrentadas pelas gerações atuais.
O ponto de partida é a conturbada relação com seu pai, que lida com uma doença grave. A iminência da morte leva Panayotis a refletir sobre questões que nunca foram superadas no âmbito familiar e que o autor carrega para outras áreas de sua vida. Dentre elas temos a dificuldade da auto aceitação da sexualidade, que manchou muitos anos de sua juventude. Para quem viveu algo semelhante, não há como deixar de enxergar a coragem e a sinceridade nas palavras do autor.
E é com essa mesma coragem que Panayotis aborda os desafios com sua saúde mental. A depressão que paralisa e alimenta uma sensação insuportável de desesperança. São crises que refletem uma dor ainda tão pouco compreendida. Expor uma vulnerabilidade como essa é a certeza de que outros leitores poderão se identificar e se sentir acolhidos em um sofrimento que não precisa ser solitário.
Gostei muito da leitura, até por conseguir me conectar em vários momentos descritos pelo autor. A escrita é simples e fácil, mas isso não retira a densidade dos temas abordados. A sensação, para mim, é de que li um Édouard Louis, mas sem as discussões sociais e políticas, já que a proposta de Panayotis é mergulhar em dores subjetivas de difícil acesso. Recomendo!