Quantos livros você já leu de autores etíopes? Aposto que a resposta da maioria é nenhum. Foi justamente com o objetivo de trazer obras das mais diferentes partes do mundo, e que muitas vezes sequer estão publicadas no Brasil, que eu criei o meu clube do livro (Bookster pelo Mundo). E para o mês de fevereiro, lemos um romance histórico que se passa em um período extremamente conturbado da Etiópia.
Maaza Mengiste decidiu retornar para a sua terra natal por meio da literatura, fazendo uma denúncia sobre a violência que fez milhares de vítimas na década de 70. Até então o país, que vivia uma crise de pobreza e fome, era comandado pelo imperador Hailé Selassié. No entanto, em 1974 um comitê militar deu um golpe de Estado e assumiu o poder. O que aparentava ser uma alternativa para mudanças positivas, contando inclusive com o apoio do movimento estudantil, se revelou um período sangrento para o país.
E é nesse cenário que acompanhamos a história de uma família e os impactos que essas mudanças causam, de forma distinta, em cada um dos seus membros. Hailu, a figura paterna, é médico e acaba ficando viúvo logo no início da narrativa. Diante disso, cabe ao personagem lidar com as diferenças que marcam seus dois filhos: Dawit e Yonas. Há fortes contrastes de pensamentos e comportamentos, que são acentuados. Há, também, outros personagens bem interessantes que circundam esse núcleo familiar, como a esposa de Yonas.
Também é muito interessante a forma como a autora vai construindo as mudanças nos personagens. A reação de cada um é única diante da busca pela sobrevivência e da proteção das pessoas que amadas. O único ponto que senti um pouco de falta foi o aprofundamento no psicológico de alguns personagens, já que não consegui me conectar tanto (o principal, para mim, ficou com a parte histórica).
A escrita é bem fluida, com capítulos curtos, mas já adianto que há cenas muito fortes, servindo como uma verdadeira denúncia do período brutal vivido pela Etiópia.
Em mensagem enviada pela autora aos membros do clube, Maaza nos contou que não tinha como ser diferente e ignorar o grau de maldade e de sofrimento que o regime causou para milhares de pessoas. Um ótimo romance histórico!
Nota 9/10




