Conceição é uma das maiores autoras brasileiras de hoje. Escolher uma de suas obras é ter a certeza de encontrar personagens marcantes e uma escrita potente, que atravessa o leitor ao abordar vivências tão reais e que revelam as desigualdades e problemas sociais do nosso país. Além disso, quem já teve a oportunidade – e privilégio – de assistir à autora ao vivo sabe o impacto e a doçura de sua presença.
Neste, que é considerado o seu principal romance, Conceição nos apresenta Ponciá, uma mulher negra que enfrenta as dificuldades da pobreza, o racismo estrutural e a exploração da força de trabalho. E ao acompanhar a sua infância e o seu amadurecimento até a idade adulta, o leitor se depara com uma protagonista que busca a sua identidade, sempre influenciada pelo seu passado e por sua família, que ela teve que deixar para trás em busca de um lugar para pertencer.
E falando em lugar, a autora tem uma habilidade incrível de nos transportar para os ambientes que marcam a vida de Ponciá: tanto o local em que nasceu, como a cidade grande que se revelou tão pouco acolhedora. Também é interessante como a protagonista vai descobrindo uma relação diferente com seu avô, que faleceu quando ela ainda era criança e que teria deixado uma herança peculiar, indo muito além de algum bem material.
Não há como não sentir compaixão pela protagonista. Ao longo da leitura, a vontade é de acolher Ponciá, tentar tirá-la da solidão de seu sofrimento. E como é característico de Conceição, o romance aborda temas de extrema relevância como a desigualdade social, o racismo, a luta pela sobrevivência e as relações familiares. Apesar de narrar uma vida difícil, escrita é fluida e muito poética. Marquei várias passagens da obra e em diversos momentos a vontade era de ficar relendo alguns trechos por conta das reflexões que a autora de forma tão sensível desperta no leitor. Maravilhoso!
Nota 10/10




