Veja também

DIVERSOS

10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho, de Elif Şafak | Resenha

A premissa desse livro, da autora turca Elif Shafak, é incrível e afeta diretamente a estrutura da narrativa. A obra parte de um dado sobre o funcionamento do nosso corpo, com base em observações científicas: após o coração parar de bater, o nosso cérebro ainda apresentaria atividades por até 10 minutos e 38 segundos. E Elif Shafak se vale dessa informação para dar início a história de Leila Tequila, já que logo na primeira página nos deparamos com a informação que a protagonista teria sido assassinada.

NOTA 9/10

DIVERSOS

Carta ao pai, de Franz Kafka | Resenha


Quais os impactos que uma relação conturbada entre com o pai pode trazer para a vida de um filho? A partir de uma longa carta escrita por Kafka ao seu pai, Hermann Kafka, em 1919, podemos concluir que as marcas são duradouras e complexas. O texto é muito potente e nos dá a sensação de mergulhar na intimidade de alguém, como se estivéssemos abrindo um diário que nunca deveria ter sido lido.

NOTA 9/10

DIVERSOS

NOTA 8,5/10

Santo de casa, de Stefano Volp | Resenha

A perda de um pai é, normalmente, um momento de tristeza e muita dor. Mas o que acontece quando as memórias do passado são carregadas de mágoa e conflitos? É isso que descobrimos ao acompanhar os rastros que a morte trágica de Zé Maria deixa para sua esposa, Rute, e seus três filhos. Todos retornam à cidade natal, onde ainda moravam os pais, para viver o luto e organizar o velório. Esse encontro, no entanto, vai reabrir feridas, permitir descobertas e despertar uma confusão de sentimentos. É possível amar e sofrer pela perda de quem nos fez mal?

Zé Maria foi por muito tempo uma presença que assombrava a família, exercida por um comportamento patriarcal e autoritário. A violência sofrida por Rute, e testemunhada pelos filhos, foi destruindo o amor heróico que se espera sentir pelo pai. A diferença dos tratamentos e a carência de afetos foi afastando os filhos daquela realidade, que deveria ser conhecida como lar. A mãe sofre com a falta, mas os filhos precisam viver suas vidas, cada um guiado por suas próprias motivações. E todos esse abismo criado nas relações envolve muito o leitor ao longo das páginas.

E apesar de tudo isso, a perda de Zé Maria representa a morte do pai. Isso mexe com os quatro que ainda escavam as memórias, e encontram poucas boas, enquanto preparam o velório. Por outro lado, os moradores da cidade, que conhecem um Zé Maria diferente, prestam homenagens diante de uma morte tão trágica, cometida por um assassino feroz. Porque o santo fora de casa não passava pela porta de entrada?

E todo esse enredado familiar é construído por Volp em uma estrutura peculiar, com múltiplas vozes.

Os capítulos alternam entre as visões dos filhos e da viúva, mas sempre a partir da voz do Alan, o caçula, que dialoga com os demais personagens. E apesar poder causar um certo estranhamento nos leitores, é um estilo interessantíssimo. Com uma escrita mais madura e carregada de um teor poético, o jovem autor toca em temas sensíveis e que são extremamente comuns: relacionamentos violentos, a falta do afeto, a fuga do seio familiar, o necessidade de guardar segredos e a dificuldade de lidar com o diferente. Recomendo!

Deixe seu comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Campos obrigatórios são marcados*.

Nome*:

Email*:

Comentário*

Veja também

DIVERSOS

Divórcio em Buda, de Sándor Márai | Resenha

Um dos mais importantes escritores húngaros, Sándor Márai constrói um personagem repleto de conflitos e com uma interessantíssima densidade psicológica. Na Budapeste da década de 30, pré Segunda Guerra Mundial, o juiz Kristóf Kömives se depara com o dever de homologar um divórcio de um homem e uma mulher que já cruzaram os seus caminhos. Imre Greiner foi seu colega de escola e Anna Fazekas teve um encontro marcante com Kömives alguns anos antes.

NOTA 9/10

DIVERSOS

Angústia, de Graciliano Ramos | Resenha

Graciliano tem uma habilidade admirável de criar personagens com densidade psicológica, quase como se pudessem sair andando pelas páginas. Em “Angústia”, talvez o autor tenha conseguido criar o mais real deles, Luís Pereira da Silva, e isso justifica o título da obra, já que o leitor realmente compartilha esse sentimento atormentador com o protagonista.

NOTA 9/10