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10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho, de Elif Şafak | Resenha

A premissa desse livro, da autora turca Elif Shafak, é incrível e afeta diretamente a estrutura da narrativa. A obra parte de um dado sobre o funcionamento do nosso corpo, com base em observações científicas: após o coração parar de bater, o nosso cérebro ainda apresentaria atividades por até 10 minutos e 38 segundos. E Elif Shafak se vale dessa informação para dar início a história de Leila Tequila, já que logo na primeira página nos deparamos com a informação que a protagonista teria sido assassinada.

NOTA 9/10

DIVERSOS

Carta ao pai, de Franz Kafka | Resenha


Quais os impactos que uma relação conturbada entre com o pai pode trazer para a vida de um filho? A partir de uma longa carta escrita por Kafka ao seu pai, Hermann Kafka, em 1919, podemos concluir que as marcas são duradouras e complexas. O texto é muito potente e nos dá a sensação de mergulhar na intimidade de alguém, como se estivéssemos abrindo um diário que nunca deveria ter sido lido.

NOTA 9/10

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NOTA 9,5/10

Na voz dela, de Alba de Céspedes | Resenha

A autora italiana, que inspirou Elena Ferrante, construiu narrativas que, mesmo decorrido mais de 70 anos, ainda dialogam com o leitor contemporâneo. Assim como no sucesso “Caderno proibido”, em seu novo romance publicado no Brasil a autora mergulha no universo feminino e constrói uma personagem que não se submete ao papel que a sociedade teria escrito para as mulheres de sua época. Alessandra Gorteggiani é uma jovem que deseja ter sua voz ouvida.

Na primeira parte do livro, Alba de Céspedes foca em uma interessantíssima relação entre mãe e filha. Alessandra tem como referência uma mulher que sai de casa para dar aulas de piano a uma família rica e acaba descobrindo uma vontade perturbadora de escrever o seu próprio roteiro – que aparentemente não tem nada de comum. Por outro lado, o pai aparece como a representação do homem conservador e machista da metade do século XX. Para ele, a mulher deve exercer o seu papel dentro de casa, cuidando da família e do que ele tenta enxergar como um lar.

Essa primeira parte, na minha opinião o ponto alto da obra, termina com um desfecho trágico da mãe de Alessandra. Com isso, ainda adolescente, a garota acaba se mudando de Roma e encontra novos personagens que insistem em criá-la para um destino sem muita independência. Aos poucos, a referência de sua mãe vai se fazendo cada vez mais presente e Alessandra acaba percebendo a impossibilidade de ficar calada. Ainda que muitas vezes ela não seja ouvida, a protagonista tem a certeza de que ao menos haverá voz.

A obra é escrita em um tom confessional, em primeira pessoa, o que nos aproxima de Alessandra. Essa característica permite que a paixão que a jovem alimenta por Francesco, um professor universitário, seja transmitida para o leitor. Para alguém que viveu tantas perdas e a falta de afeto, a relação surge como um sentimento de esperança. Nesse ponto, o contexto histórico ganha forças e a iminência da Segunda Guerra Mundial traz uma revelação de Francesco: ele é antifacista e não ficará parado diante do avanço de um poder autoritário.

A vida de Alessandra, no entanto, será diretamente transformada ao longo da guerra.

O livro é longo e, em poucos momentos, senti que precisava de um novo fôlego. Alternar com leituras mais curtas foi uma ótima opção, já que depois de um dia sem ler a obra eu sentia falta da voz de Alessandra. É impressionante como as reflexões que a autora desperta em relação ao universo feminino ainda se mostram atuais. E não como deixar de falar do final chocante, que confere um significado ainda mais forte para toda a trajetória que percorremos por mais de uma década na vida da protagonista.

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Santo de casa, de Stefano Volp | Resenha

A perda de um pai é, normalmente, um momento de tristeza e muita dor. Mas o que acontece quando as memórias do passado são carregadas de mágoa e conflitos? É isso que descobrimos ao acompanhar os rastros que a morte trágica de Zé Maria deixa para sua esposa, Rute, e seus três filhos. Todos retornam à cidade natal, onde ainda moravam os pais, para viver o luto e organizar o velório. Esse encontro, no entanto, vai reabrir feridas, permitir descobertas e despertar uma confusão de sentimentos. É possível amar e sofrer pela perda de quem nos fez mal?


NOTA 8,5/10

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Divórcio em Buda, de Sándor Márai | Resenha

Um dos mais importantes escritores húngaros, Sándor Márai constrói um personagem repleto de conflitos e com uma interessantíssima densidade psicológica. Na Budapeste da década de 30, pré Segunda Guerra Mundial, o juiz Kristóf Kömives se depara com o dever de homologar um divórcio de um homem e uma mulher que já cruzaram os seus caminhos. Imre Greiner foi seu colega de escola e Anna Fazekas teve um encontro marcante com Kömives alguns anos antes.

NOTA 9/10