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10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho, de Elif Şafak | Resenha

A premissa desse livro, da autora turca Elif Shafak, é incrível e afeta diretamente a estrutura da narrativa. A obra parte de um dado sobre o funcionamento do nosso corpo, com base em observações científicas: após o coração parar de bater, o nosso cérebro ainda apresentaria atividades por até 10 minutos e 38 segundos. E Elif Shafak se vale dessa informação para dar início a história de Leila Tequila, já que logo na primeira página nos deparamos com a informação que a protagonista teria sido assassinada.

NOTA 9/10

DIVERSOS

Carta ao pai, de Franz Kafka | Resenha


Quais os impactos que uma relação conturbada entre com o pai pode trazer para a vida de um filho? A partir de uma longa carta escrita por Kafka ao seu pai, Hermann Kafka, em 1919, podemos concluir que as marcas são duradouras e complexas. O texto é muito potente e nos dá a sensação de mergulhar na intimidade de alguém, como se estivéssemos abrindo um diário que nunca deveria ter sido lido.

NOTA 9/10

DIVERSOS

NOTA 9/10

Divórcio em Buda, de Sándor Márai | Resenha

Um dos mais importantes escritores húngaros, Sándor Márai constrói um personagem repleto de conflitos e com uma interessantíssima densidade psicológica. Na Budapeste da década de 30, pré Segunda Guerra Mundial, o juiz Kristóf Kömives se depara com o dever de homologar um divórcio de um homem e uma mulher que já cruzaram os seus caminhos. Imre Greiner foi seu colega de escola e Anna Fazekas teve um encontro marcante com Kömives alguns anos antes.

Essa sua tarefa desperta no protagonista diversas reflexões e dúvidas sobre o caráter moral do que precisa fazer como representando do Estado. Homologar um divórcio e destruir uma família seria o correto a fazer? A primeira parte do livro, que carrega um tom muito mais subjetivo e sem grandes acontecimentos, transporta o leitor justamente para os pensamentos conflituosos de Kömives. Ele se incomoda e sofre com o contraste entre o tradicional e o novo, entre o que o Estado lhe obriga a fazer e o que a religião entende como correto, entre o que é o moralmente correto e os desejos do ser humano.

Gostei muito de como o autor conseguiu construir os personagens de forma sólida, retomando a vida do protagonista, de sua esposa e do casal que estava prestes a oficializar o divórcio. Esse processo conseguiu explicar muito dos pensamentos de Kömives, que nasceu em uma família aristocrática, seguindo os passos dos homens que o antecederam, todos bem sucedidos na carreira de magistrado. Ou seja, o protagonista vive o lado que enxerga nas mudanças uma possível ameaça a sua própria condição.

Esse contraste entre progresso e tradição também é refletido na cidade que serve de cenário para a narrativa. Budapeste é dividida pelo rio Danúbio entre Buda, um local que preserva as construções mais antigas e serve de residência para a aristocracia, e Peste, um símbolo do progresso e da modernidade. Em janeiro, no mês da leitura para o clube Bookster pelo Mundo, visitei a capital húngara e pude vivenciar esse contraste. Senti como estivesse caminhando pelos mesmos trajetos seguidos pelo protagonista.
A segunda parte do livro toma um fôlego maior, uma vez que o leitor acompanhará os diálogos entre Kömives e um visitante que aparece em sua casa no meio da madrugada, com uma confissão surpreendente. Esse encontro revolverá o passado e lembranças marcantes do protagonista.

Eu gostei muito da leitura e das reflexões despertadas pelas contradições vividas por Kömives, mas reconheço que a obra mais lenta e introspectiva possa gerar um incômodo em certos leitores. Márai tem uma habilidade incrível de se aprofundar no psicológico dos personagens e de construir diálogos marcantes.

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Angústia, de Graciliano Ramos | Resenha

Graciliano tem uma habilidade admirável de criar personagens com densidade psicológica, quase como se pudessem sair andando pelas páginas. Em “Angústia”, talvez o autor tenha conseguido criar o mais real deles, Luís Pereira da Silva, e isso justifica o título da obra, já que o leitor realmente compartilha esse sentimento atormentador com o protagonista.

NOTA 9/10

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Amanhã tardará, de Pedro Jucá | Resenha

Em seu romance de estreia, o jovem autor brasileiro nos apresenta uma história forte sobre traumas, relações familiares e sexualidade. E tudo isso a partir de um retorno, da busca às origens: Marcelo, o protagonista, volta a sua cidade natal por conta da doença que acomete seu pai e se depara com resquícios - extremamente doloridos - de um passado conturbado.

NOTA 8,5/10