A tetralogia da autora italiana de identidade misteriosa virou um dos livros mais comentados dos últimos anos. Aqui no @book.ster, “A amiga genial” era uma das obras que vocês mais me pediam para ler. Ao mesmo tempo, alguns leitores opinavam que talvez a leitura não me agradaria e que, por envolver uma descrição tão íntima do universo feminino, não conseguiria ser captada de forma tão intensa por mim.
Na cidade de Nápoles, no sul da Itália, Elena narra a sua história sob o enfoque de sua amizade com uma garota excêntrica, Lila Cerulo. Ainda crianças, as duas compartilham seus desejos, medos e primeiros amores. As diferenças também geram intrigas e inveja, assim como aos poucos a maturidade vai ensinando que a amizade pode resistir a decepções. É uma relação muito bem construída por Ferrante, que retrata sentimentos e vivências com as quais podemos nos identificar – e é aqui que um mulher possa sentir uma maior identificação.
A educação também tem um papel central e a forma como vai ocupando a narrativa serve como uma denúncia das consequências de uma desigualdade social. Uma das meninas se vê impedida de perseguir seu sonho e a amizade acaba sofrendo com essa fenda que vai distanciando os seus caminhos.
Além de abordar o universo feminino, Ferrante consegue descrever a atmosfera caótica da cidade italiana de forma muito precisa, em um bairro barulhento e repleto de brigas e fofocas. A parte histórica fica por conta do cenário de pós-guerra, em que as famílias sofrem as consequências das mudanças sociais a depender de seu papel naquela comunidade.
Ainda que a primeira metade tenha sido mais lenta e desanimadora para mim, ao acompanhar uma fase infantil das personagens principais, gostei muito da escrita da autora. Na segunda parte, o ritmo de leitura melhorou e consegui entender um pouco mais o motivo de tantos leitores devorarem a tetralogia em pouco tempo. A últimas páginas são igual o final de capítulo de novela e já atiçam o leitor para seguir o caminho de vida das garotas. Com certeza não pararei por aqui!