“Tudo é rio” é surpreendente! E isso por diversos motivos. Em seu romance de estreia, a autora mineira revela uma escrita encantadora, entregando ao leitor uma obra poética, instigante e ardente. É uma narrativa simples e, ao mesmo, densa, que vai te deixar com vontade de sair marcando várias passagens.
Dalva e Venâncio formam um casal preenchido, em que a falta não é sentida. Mas é justamente a partir da chegada de mais um na vida desses dois, que uma tragédia acontece e os sentimentos mais conflituosos tomam conta de seus pensamentos. É como se apesar de completos, Venâncio – de forma doentia – não pudesse tolerar qualquer excesso.
E em paralelo, surge a figura de Lucy, uma prostituta que satisfaz e é atração dos homens da cidade. A mulher se gaba do prazer que sente com seus clientes e da capacidade de enfeitiçar um por um. A situação muda, no entanto, quando Lucy se vê ignorada e até mesmo rejeitada por Venâncio.
E é a partir da revelação do passado de cada um desses personagens que Carla Madeira vai criando uma narrativa com um ritmo impressionante. É no meio de sangue, sêmen, suor e lágrimas que o leitor se vê preso à correnteza das palavras da autora. São capítulos curtos, em que Lucy, Carla e Venâncio te impedem de parar.
Terminei a leitura com aquela vontade de sair falando para todo mundo: leiam “Tudo é rio”, leiam Carla Madeira! E, apesar de ser mera coincidência, publicar uma resenha nota 10 de uma obra escrita por autora nacional contemporânea em pleno dia da mulher só deixa mais evidente o quanto perdemos por conta de um mercado editorial que ainda resiste em valorizar escritoras brasileiras.
A atendente de uma livraria me falou tão bem dessa obra que já está no topo da lista dos desejos.