Felicidade conjugal, de Liev Tolstói
Ler Tolstói é sempre uma experiência marcante, porque une uma narrativa envolvente com uma construção talentosíssima dos personagens. O autor russo sabe como poucos descrever as nuances das relações sociais e, em “Felicidade conjugal”, Tolstói coloca o seu conhecimento sobre o ser humano a partir de uma perspectiva feminina – o que não é comum em suas obras.
A jovem Mária Aleksandrôvna, orfã de mãe e pai e herdeira de muitas terras, se apaixona pela primeira vez. O destinatário desse sentimento perturbador é um amigo do seu pai, vinte anos mais velho e que até então nutria um afeto ingênua por Mária. Aos poucos, Sierguiéi Mikháilitch começa a perceber o interesse da jovem e, apesar de uma desistência inicial, passa a corresponder o sentimento. De filha do seu amigo, Mária passa a se tornar o seu mais novo interesse.
Na segunda parte da obra, acompanhamos o amadurecimento da relação entre os dois. É justamente essa transformação do sentimento da paixão para o amor, assim como a descrição das diferentes fases do amor, que torna esse livro tão bom. O que parecia ser uma relacionamento imune a tentações, acaba enfrentando desafios a partir do momento em que o casal não está mais a sós.
E para deixar a leitura ainda mais interessante, não se pode deixar de considerar que a obra foi publicada em 1859 e retrata os comportamentos e os sentimentos de uma mulher corajosa e que desafia os costumes mais tradicionais daquela época. O retrato da sociedade russa do século XIX e os contrastes entre a realidade rural e das grandes cidades também é um aspecto muito enriquecedor da obra.
São muitas as reflexões que o livro traz sobre a complexidade e a universalidade do sentimento. Apesar de ser um leitor nascido tantos anos depois, é impossível não se identificar com as descrições construídas pelo autor. Se você nunca leu nada do autor, essa pode ser uma ótima opção. Tolsói é genial!
Ps: escolha uma edição com tradução direta do russo, como essa da @editora34 que mostro no vídeo.