Que eu sou fã de carteirinha do Gabo, vocês já sabem. Mas eu tenho uma história de infância envolvendo essa obra. Nunca vou esquecer de, em uma viagem de navio que fiz com meus avós paternos, ver minha avó lendo um mesmo livro em vários momentos daquelas férias. Eu devia ter uns 10 anos e, como um bom curioso, resolvi fuçar para saber o título que ela tinha em mãos. Fiquei em choque quando eu vi: minha avó estava lendo uma obra sobre putas tristes? A minha imaginação foi longe para tentar descobrir qual seria a história naquelas páginas.
E foi só depois de cerca de 20 anos que resolvi dar a chance para a obra, que foi o último romance publicado pelo autor. Com um tema bem polêmico – e de difícil digestão – narra os dias de um homem que acaba de completar 90 anos. Enquanto relembra seu passado como jornalista e filho de uma família aristocrata em decadência, o personagem tentar encontrar o seu presente de aniversário: uma prostituta virgem.
Apesar de ser um frequentador costumeiro de prostíbulos, a experiência com uma virgem seria inédita. A situação fica ainda mais incômoda para o leitor quando se descobre que a mulher ofertada seria uma adolescente. Para um homem que nunca teve um amor em toda sua vida, a situação parece sair do controle depois que ele conhece a jovem.
É, acima de tudo, um relato de um velho decadente, que viveu uma vida solitária e mimada. Aos 90 anos, decide fazer um acerto de contas com seu passado enquanto percorre por suas memórias. Gosto muito da escrita do Gabo e de sua habilidade em contar histórias, e, apesar da polêmica de temas tratados, gostei muito da leitura. Na minha visão, não há uma romantização da relação do velho com a adolescente, mas sim o retrato melancólico da decadência humana. E a repulsa sentida pelo leitor é inevitável.