Essa foi a primeira leitura do meu clube do livro, Bookster pelo Mundo, e é impressionante como a experiência de uma leitura coletiva enriquece muito, deixando as discussões e reflexões bem mais marcadas no leitor.
“Cachorro velho” é um romance que se passa durante o período de escravidão em Cuba, que foi o penúltimo pais da América Latina a abolir essa brutal forma de exploração, em 1886 (o Brasil foi o último). A autora, descendente de escravizados, constrói a narrativa a partir da historia de Cachorro Velho, um escravizado mais velho que sequer teve direito a um nome, passando a ser chamado da forma que o senhor de engenho escolheu.
“Não era dono de seus passos nem de seu caminho. Nem sequer lhe pertenciam os ossos que tremiam, de noite, sobre o catre.”
Assim, nos deparamos com as poucas memórias de quem nunca teve direito a nada. Logo após seu nascimento, Cachorro Velho foi separado da sua mãe e criado por outros escravizados. É uma vida de quem aguarda a morte, na expectativa de que o sofrimento um dia possa terminar. Ao lado de sua história, conhecemos um pouco sobre outros escravizados, sendo as mulheres as personagens mais fortes e que se destacam, sobretudo a velha Beira.
E é quando Cachorro Velho está no fim da vida que essa rotina de espera muda repentinamente: Aisa, uma menina escravizada de 10 anos, busca a ajuda do personagem para conseguir sobreviver de uma fuga. A partir disso, será que é possível esperar coragem de alguém que vive uma vida de medo e falta de afetos?
A escrita de Tereza Cárdenas é fluida e tranquila, apesar do impacto dos temas por ela tratados. É impossível não se lembrar das historias de escravidão que estamos acostumados a ler no Brasil. Enfim, gostei demais dessa leitura e recomendo muito para quem quer se aventurar na literatura cubana.