Escrito em 1954, “As inseparáveis” é um romance póstumo inédito no Brasil, e foi a minha primeira experiência lendo a memorável Simone de Beauvoir. A leitura tem como pano de fundo a amizade entre duas amigas, Sylvie e Andrée. Mas, na verdade, a autora criou essas duas personagens para escrever um romance sobre a sua própria história e de sua amiga Élisabeth Lacoin, a Zaza. “As inseparáveis” pode, portanto, ser classificado com um romance autobiográfico, em que há elementos de ficção (em maior ou menor grau) junto com um narrador que conta a sua própria historia, em primeira pessoa.
A história das duas garotas começa ainda na infância, quando Sylvie e Andrée se conhecem no colégio Desir, em Paris. A relação entre duas meninas tão diferentes acaba se desenrolando em uma amizade intensa e conflituosa, sobretudo em virtude dos contrastes na educação que cada uma recebe dentro de casa. Um contaste entre mulheres que aceitavam ou se opunham às imposições de uma sociedade conservadora e religiosa do início do século XX.
E é a partir das diferenças de pensamentos, e de como Sylvie se opunha aos pensamentos da conservadores da família de Andrée, que podemos ver pontos que posteriormente marcariam a filosofia da autora sobre as diferenças de gênero.
Além das questões mais ideológicas, o que temos nesse livro é uma narrativa sobre uma amizade marcante e que faz sofrer. A autora enfrenta angústias da sua infância e adolescência, passando por temas como primeiro amor, religião e a dificuldade do amadurecimento.
A edição conta com fotos de Simone e sua melhor amiga e cartas trocadas entre as duas amigas, além de um ótimo prefácio escrito pela filha da autora, Sylvie Le Bon de Beauvoir. Um romance curto, delicioso e que ficará marcado para leitor!