Romance autobiográfico que fez bastante sucesso na França, “O fim de Eddy” retrata as dificuldades e conflitos internos vividos por um garoto que ainda questiona a sua sexualidade. A discriminação sentida desde a infância é ainda mais reforçada pelo ambiente em que Eddy nasceu: uma pequena cidade de operários no interior da França, ainda extremamente marcada pelo conservadorismo na década de 90.
Escolhi esse livro para o#desafiobookster2019 do mês de junho, cujo tema era LGBTfobia, e posso dizer que a leitura consegue, de uma maneira impactante, transmitir ao leitor o sofrimento de quem é vítima desse preconceito. A gravidade dessa questão social fica latente no livro quando percebemos que nem a própria família do autor conseguiu poupar a discriminação contra uma criança. A falta de empatia chega a incomodar. A escola também se tornou um pesadelo para o garoto, que era constantemente vítima de agressões físicas e psicológicas. Para tentar se enquadrar em uma sociedade que não aceita o diferente, Eddy segue sua vida orientado por uma frase: “hoje vou ser um durão” (“aujourd’hui je serai un dur”). É a esperança de que o esforço poderá transformá-lo naquilo que todos esperam dele. É a homofobia presente na cabeça de Eddy a todo momento e que norteia os seus passos e escolhas. E o leitor acompanha os sofrimentos desse garoto que está descobrindo sua sexualidade, mas que se vê obrigado a esconder – até de si mesmo – o que sente. Eddy faz sua vida com base no que os outros vão aprovar.
A escrita do autor é bem crua e rápida. A história é construída a partir de uma sucessão de eventos marcantes na infância e adolescência do autor e que tiveram inegáveis reflexos durante toda a sua vida. Confesso que em alguns momentos senti a escrita um pouco simples demais e talvez isso possa ter se dado por problemas da tradução. Até recebi mensagens de pessoas que leram no original e adoraram o tom poético da escrita. Isso, infelizmente, não consegui perceber na versão em português. Mas de qualquer forma, o livro possui diversas qualidades e consegue colocar o leitor na perspectiva de quem sofre rotineiramente pela LGBTfobia.