Publicado em 1973, durante o governo de Médici, muito se questiona sobre como o livro teria escapado da censura imposta pelo Ato Institucional n. 5 (AI-5). Nesse romance, a autora apresenta a vida de Lorena, Lia e Ana Clara, três jovens com personalidades e passados muito diferentes, mas que vivem juntas em um pensionato de freiras paulistano. Lá partilham de uma amizade forte e vivem as angústias típicas da juventude. Apesar de um título comum e de uma sinopse aparentemente “inofensiva” para um governo autoritário, ao longo da narrativa, o leitor encontra fortes críticas ao regime vigente – contando, inclusive, com a descrição de uma sessão de tortura.
O que mais impressiona na obra, por sua vez, é a construção da história e dos personagens. É um romance em movimento, por meio do qual Lygia vai alternando o foco narrativo entre as três personagens. E é por meio da perspectiva dessas três jovens que Lygia traz o universo feminino sob uma perspectiva moderna, rompendo com questões morais até então impostas por uma sociedade machista. Uma temática muito atual!
O começo da leitura pode até parecer confuso, porque a autora se vale muito da técnica do fluxo de consciência, isto é, tenta inserir o leitor dentro dos pensamentos – desordenados – de cada uma das jovens. São várias vozes se alternando a todo momento. Mas como as três personagens são tão bem construídas, com personalidades marcantes e com um estilo peculiar de se expressar, o leitor vai aos poucos conseguindo identificar quem conduz a narrativa em cada momento.
Para evitar a confusão entre as narradoras, dou uma dica que me ajudou MUITO na compreensão da história: consulte a orelha dessa edição ao longo da leitura, pois nela há uma breve descrição de cada uma das personagens.
Enfim, foi muito interessante acompanhar a vida das três jovens e entrar na intimidade de cada uma a partir de seus próprios pensamentos. Mas lembre-se de que as três apresentam uma visão parcial dos fatos e, por isso, não são totalmente confiáveis. Recomendo muito a obra! Entrou para uma das melhores leituras de 2018! #bookster