A primeira parte da obra, em que a autora dinamarquesa escreve sobre a sua infância, é um dos textos mais marcantes que li nos últimos tempos. Gosto de livros autobiográficos de pessoas “comuns”, que fogem da fórmula best-seller de obras escritas por grandes personalidades de sucesso. E é isso que encontramos em “Trilogia de Copenhagen”, as memórias de uma escritora nascida em 1917 na Dinamarca e cuja vida desafiou os padrões do que a sociedade esperava de uma mulher da sua época.
O livro é dividido em três partes, publicados de forma independente e que foram reunidos só em edições recentes: Infância, Juventude e Dependência. É muito interessante acompanhar a mudança com que a autora se comunica em cada uma das fases da sua vida. A “Infância” me encantou e revelou uma extrema habilidade de narrar uma história a partir da voz de uma criança. Tove cresceu em uma família tumultuada e o afeto lhe fazia falta. Tove era uma criança sonhadora e sua infância acaba lhe perseguindo por toda a vida.
As demais partes também são bem envolventes, com destaque para “Dependência”, em que conhecemos o desafio vivido pela autora na luta contra o vício em remédios. É uma leitura muito angustiante e que pode incomodar um leitor mais sensível.
Tove demonstra uma coragem inspiradora de não se submeter ao julgamento da sociedade. Ela viveu diferentes relacionamentos – muitos que lhe fizeram mal – e não desistia do seu objetivo de ver a sua escrita publicada.
Além disso, apesar de ser um livro de memórias, a escrita carrega uma narrativa similar a um romance. Em vários momentos me esquecia que aquela protagonista realmente existiu e tinha vivido tudo o que estava sendo contado. A sensação era de ler um romance impactante e que me segurava naquelas páginas. Gostei demais e recomendo fortemente!




