O retorno do exílio é um tema que me desperta muito interesse na literatura. Isso porque a pessoa retorna para um local que não existe mais, já que o tempo transformou não apenas o país e a cidade em ela vivia, mas também os seus amigos e a própria família. Em “O tempo das cerejas”, um clássico da literatura catalã, conhecemos a história de Natàlia, uma mulher que retorna à Espanha depois de 12 anos de uma fuga do regime franquista que marcou o seu país por tantos anos.
A obra inicia no ano de 1974, pouco tempo antes da morte de Franco. Seu regime impôs uma política de nacionalismo espanhol extremo, que tinha como objetivo eliminar as diferenças culturais dentro da Espanha. Portanto, os catalães viraram alvo de perseguição pelo ditador, o que motivou a saída da protagonista para viver na França e Inglaterra. O contraste desse retorno depois de mais de uma década é apresentado de forma muito habilidosa pela autora, que escreveu o romance no idioma catalão.
Além disso, Natàlia não é a única voz que acompanhamos durante a leitura. Ao longo dos capítulos, a perspectiva da protagonista dá lugar para outros personagens, dentre eles sua cunhada, seu pai e sua tia. E a autora ainda se vale de uma narrativa não linear, alternando os acontecimentos entre o presente e o passado, de modo que o leitor pode conhecer diferentes momentos da vida dos membros da família de Natàlia.
Gostei da leitura, ainda que tenha sentido uma certa falta de um enfoque maior no tempo presente. Queria um aprofundamento nesse retorno da protagonista, na percepção das mudanças que ela vai identificado ao seu redor e na reconstrução dos laços que deixou para trás. Os personagens são bem construídos e a autora revelou uma habilidade em lidar com diferentes tempos na construção da obra. Uma ótima oportunidade de conhecer mais sobre a literatura catalã, unindo uma visão feminina e um período histórico que marcou a vida de tantos espanhóis e catalães.




