Milton Hatoum é um dos mais importantes autores contemporâneos nacionais. No entanto, até pouco tempo, nunca havia lido uma obra sua. Recebia com frequência alguma indicação sua e Dois irmãos estava na minha lista há um bom tempo. E que bom que eu resolvi tirar ele da estante… Adorei a leitura!
Apesar do título, a obra vai muito além da relação entre os dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar. É um retrato profundo sobre os laços familiares – muitos deles desgastados – e a sua decadência ao longo dos anos. O cenário é a cidade de Manaus, no meio do passado, mas os principais acontecimentos se dão dentro da casa dessa família, de origem libanesa. E além de pais e filhos, moram na casa a empregada doméstica e seu filho que, inclusive, é o narrador da história.
E os desentendimentos que passam a marcar a família têm origem em um conflito físico entre os irmãos. Um deles é agredido e acaba ficando com uma marca definitiva em seu corpo. É a marca das diferenças entre Yaqub e Omar, sendo uma das principais a desigualdade de amor materno que cada um recebe. Omar é tido como mais frágil pela mãe e, por isso, é agraciado com uma atenção maior. Para Yaqub, resta a tentativa de equiparar esse amor.
Publicado em 2020, quando ganhou o Prêmio Jabuti de melhor romance, o livro continua fazendo sucesso e figura na lista de vários vestibulares pelo país, dentre eles a Fuvest. “Dois irmãos” já é um clássico e, acima de tudo, uma leitura deliciosa e impactante.