Eu não sei se isso acontece com todo mundo, mas livros sobre perdas e luto me impactam muito. É claro que o tema, por si só, é muito sensível e causa comoção no leitor. Mas o que me atrai é a possibilidade de acompanhar o desenvolvimento dos sentimentos de quem – sejam uma obra ficcional ou não – enfrenta uma dor tão irreparável. É como se eu ajudasse, de alguma forma, aquela pessoa quando sobre a história compartilhada.
No caso de “O ano do pensamento mágico”, a autora traz um relato autobiográfico não só de uma perda concreta, mas do medo constante com a possibilidade de perder alguém tão amado a qualquer instante. Isso porque Joan perde o seu marido, John, por conta de um ataque cardíaco, na mesma época em que sua única filha é internada em estado crítico.
Então, ao mesmo tempo, Joan Didion enfrenta o luto pelo fim de uma relação de várias décadas e passa meses na esperança de melhora de sua filha, Quintana. E é todo esse furacão de emoções que a autora compartilha com nós, leitores, em suas quase 250 páginas. É uma trajetória que mistura momentos de alívio e alegria, com dias de um medo paralisante. Me lembrou bastante a leitura de Paula, de Isabel Allende, um livro que me fez derrubar muitas lágrimas.
E além de trazer muito de um relato pessoal, a escritora norte-americana, que nos deixou no final de 2021, utiliza sua experiência como jornalista para trazer uma parte mais objetiva de tudo que está passando. Talvez isso tenha tornado a leitura uma experiência menos emotiva quando comparo com a obra de Allende. Inclusive, em vários momentos, Joan nos conta sobre o quadro médico médico de Quintana e sobre o próprio processo do luto, com um embasamento científico. Mas isso, em momento algum, tira a beleza e sensibilidade de seu texto.
Gostei muito da leitura, que foi uma das melhores de 2022. Entendo que esse livro pode não encantar todos os leitores, mas ainda assim recomendo para refletirmos a nossa mortalidade e daqueles que estão a nossa volta. A vida muda em um instante.