Escolhido para o primeiro mês do Desafio Bookster 2023, o livro do autor francês criado no Senegal traz uma visão diferente sobre o tema da 1ª Guerra Mundial. Aprendemos nas escolas e em outros livros a partir da participação dos países europeus. No entanto, David Diop constrói um romance brutal centrado em personagens senegaleses, que são convocados a deixarem o seu país e lutarem contra os inimigos dos franceses. Eles não conhecem seu inimigo, mas são ensinados a cumprir com a única obrigação de matar.
A narrativa tem início com Alfa, atirador senegalês que perdeu seu amigo de infância no campo de batalha. Para honrar a morte de Mademba, Alfa desperta o que tem de mais selvagem dentro de si, matando e colecionando um prêmio para cada inimigo “do lado de lá”. Para descrever esse seu comportamento “vingativo”, o autor não poupa detalhes sangrentos e que revelam a brutalidade dos campos de batalha. É a morte que acompanha os dias de quem está na linha de frente da Grande Guerra.
Acompanhamos esse cenário de terror contaminando os pensamentos do protagonista, como se conduzisse Alfa a um estado de loucura causado pelo trauma. Estamos de frente com os pensamentos de Alfa que, como em uma espécie de confissão, repete várias vezes o que vem em sua cabeça. Todo esse processo acaba desaguando em um final com diferentes interpretações, o que confirma a riqueza na criação do autor.
Achei muito interessante conhecer essa perspectiva pouco contada na literatura que povoa as nossas estantes. A história trazida por Diop, e que venceu o International Booker Prize, é a história de dezenas de milhares de soldados convocados pela França em suas colônias, que eram iludidos pelas promessas de uma vida melhor. Há, ainda, a abordagem sobre a espiritualidade na cultura senegalesa, o que nos ensina muito sobre a força da relação entre Alfa e Madembe.
E para quem leu o livro, gravei um vídeo com dois convidados especialistas que está disponível no canal do Youtube (link na bio). Não deixem de assistir!