Carla Madeira é sinônimo de sucesso e muitas vendas. Com isso, quando tem livro novo nas estantes, há altas expectativas. Quando esperamos muito, o risco de uma decepção é maior. Como será que foi a minha experiência com a 3ª leitura de uma obra de Carla Madeira?
Já no começo identifiquei uma característica da autora que eu gosto muito: a poesia na sua escrita. Durante toda a obra me deparei com trechos lindos, que deixaram o livro todo marcado com flags.
É um livro sobre perdas e dificuldade de superação. Quantos de nós não passamos a vida com diversos sentimentos pendurados, que nunca conseguimos deixar para trás. Essa falta pesa e transparece em quem somos. É por isso que Biá logo pergunta para Olívia: “O que você não tem mais que te entristece tanto?”
As duas se conhecem por acaso em uma banca ao ar livre, que também vende livros usados. Depois de uma primeira conversa, uma mesa simples daquela espécie de sebo para ser o ponto de encontro de Biá e Olivia aos domingos. As duas compartilham um pouco de suas vivências: Olivia é uma jovem jornalista, enquanto Biá é uma aposentada apaixonada por literatura. Apesar das diferenças de histórias, compartilham perdas em suas vidas.
A amizade que vai sendo construída me envolveu bastante, assim como os segredos que vão sendo desvendados aos poucos. Os capítulos são alternados entre as anotações de Biá e os relatos de Olivia sobre os encontros dominicais. Foi muito acompanhar as conversas das duas e os ensinamentos que Biá, com sua idade mais avançada (e sua memória um pouco falha), pode dar a quem ainda tem muito a viver.
O livro revela muitos acontecimentos, que prefiro deixar que o leitor descubra. Adianto ser uma construção de personagens muito bem feita, na qual nos envolvemos com as dores reveladas. Às vezes, sentia vontade de sentar com as duas naquele sebo e ficar papeando sobre a vida!
Carla Madeira é, sem dúvidas, uma autora excepcional de sua geração, consegue atingir um público amplo, furando a bolha de quem já tem o hábito de ler e despertando a curiosidade em novos – ou esquecidos – leitores.